António Crisógono dos
Santos
- A História nas Imagens –
Francisco Castelo
Trabalho elaborado no âmbito da
disciplina: Seminário Metodologia da Investigação
Curso de Pós Graduação em Direito Administrativo
e Gestão Autárquica
ISMAT – Portimão, Abril de 2014

Este
artigo procura realçar o valor da Fotografia como documento histórico,
fundamentando-o no testemunho dos registos de Crisógono dos Santos que
fotografou Lagos e as suas gentes no início do século XX, deixando um legado
imagético importante para a compreensão da evolução urbana e dos costumes de
Lagos, entre outros aspectos.

This article highlights the
value of
Photography as
a historical document. And this is illustrated in Crisógono dos Santos
photographs. He captured local people and local sites in the beginning of the
20th century. These are important documents in order to comprehend the urban
evolution and traditions of the city of Lagos .
Nota: este artigo não adopta as normas
ortográficas do AO90
1. Introdução
Para o historiador as fotografias representam verdadeiros documentos da
evolução material de uma sociedade. A história contemporânea é mais conhecida
pelas imagens do que pela escrita, porque as imagens permitem uma identificação
objectiva dos factos e a sua leitura imediata.
A fotografia assume papel de importância acrescida quando, para a
história das gentes e dos lugares, constitui o documento mais relevante que
atesta os actos do quotidiano. Mas é como prova das alterações produzidas no
meio, transformações no modelado e na cobertura do terreno, no crescimento
horizontal ou vertical da urbe, nas conquistas ao mar, nas modificações dos
cursos de água e outros acidentes naturais, nessas mudanças tantas vezes
transgressoras, que a Fotografia encontra um lugar especial na historiografia.
A Fotografia, conjunto de técnicas e apetrechos inventados por Nicéphore
Niépce, Henry Talbot, Louis Daguerre, Nadar, e outros mais, foi uma das
invenções marcantes do século dezanove. Não só porque veio libertar a pintura e
despoletar o aparecimento do cinema mas também porque protagonizou profundas
alterações nas formas de relacionamento. No início do século vinte a profusão
de imagens de paisagens remotas permite uma nova percepção do espaço, da sua
geografia e das distâncias. O horizonte do conhecimento, logo as perspectivas
culturais, artísticas e científicas, alargam-se. O mundo, na sua vastidão,
começa então a ser efectivamente conhecido.
As fotografias começam a substituir as palavras e a imagem liberta-se do
feudo artístico e do controlo dos dotados, universaliza-se. A Fotografia cria
novas oportunidades artísticas e permite a cada um a possibilidade de construir
ícones e expressar-se através deles. E fixa, congela permanentemente os rostos
de gente próxima ou distante, estabelecendo padrões ou revelando traços
exóticos, alargando a aceitação da variedade humana. Esta é a grande revolução
que a Fotografia opera ao permitir o registo das feições de cada cidadão, de
todos os cidadãos indistintamente, ricos ou pobres: «As classes sociais às quais o retrato privado permanece inacessível,
devido ao seu preço, aderem rapidamente ao daguerreótipo» (Amar, 2010, p.
45). Com a Fotografia, o homem aproxima-se do mundo em que vive e, simultaneamente,
do seu semelhante.
As
fotografias são documentos preciosos pois revelam dimensões da realidade
difíceis de descrever por palavras. A historiografia tradicional, ou
positivista, não encarava as fotografias como documentos históricos, porque,
restritivamente, só considerava como documento histórico o papel escrito.
Tal concepção, limitada, de documento histórico primário só foi superada no
século XX pela abordagem historiográfica operada pela Escola dos Annales que definiu a variedade de
documentos que devem constituir a base de estudo do historiador – desde um caco
de cerâmica até aos objectos do quotidiano, passando pelas tradições orais e,
claro, pelo documento fotográfico.
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Foto Nº 1 - Aguadeiro em Lagos – António Crisógono dos Santos, inícios do século XX. |
A fotografia pode mostrar, concretamente, a
aparência de um aguadeiro do início do século XX, a roupa e os utensílios que
usava, a sua constituição física e o estado aparente da sua condição de saúde; ou
um local, um edifício, uma aldeia, mostrando pormenores que a descrição escrita
frequentemente omite. E tudo isso é informação essencial para compreender os
factos históricos da contemporaneidade.
Porém, a utilização da fotografia
como documento histórico deve observar as precauções em vigor para outros tipos
de fontes históricas. Aquela imagem impressa pode não corresponder inteiramente
à realidade. Imaginemos tomar a vestimenta que um retratado enverga em 1880
como prova do vestuário que se usava no quotidiano. Ora naquela época as
pessoas não se vestiam sempre assim. E sabemos que até muito recentemente era
frequente as pessoas prepararem-se de forma cuidada para se fazerem retratar.
Por outro lado, devemos ter presente
que tais documentos raramente foram produzidos com a intenção de registar para
a posteridade a vida de uma determinada época ou cultura numa perspectiva
antropológica ou sociológica. E aqueles que foram produzidos com tais
objectivos apresentam geralmente versões profundamente comprometidas com
ideologias ou interesses de grupos sociais ou políticos - os registos
efectuados com essa preocupação por exploradores, geógrafos, naturalistas, etc.
incluem excepções mas também exemplos do que atrás foi dito.
Portanto, a Fotografia enquanto documento
histórico não está dispensada de se submeter à metodologia de
verificação/validação e ao pertinente exercício da crítica das fontes.
3. Enquadramento espácio-temporal
No início do séc. XX a
cultura ocidental debatia-se entre o desejo de modernização e a nostalgia do
passado ameaçado pela máquina. As cidades em obras reflectiam esse momento de
transição em que a indústria substituía a arte, «em que a eficácia da engenharia parecia engolir os valores artísticos
da arquitectura.» (Tostões, 2004, p. 3). E a cidade passa a ser entendida
como uma estrutura dinâmica, obrigada a um planeamento e uma organização
funcional. «Os princípios de
racionalização, ordenamento e planeamento caracterizam o urbanismo do início do
século e as vias de comunicação, para além de estabelecerem as ligações dentro
e fora dos aglomerados urbanos, também introduzem novos elementos de utilização
do espaço pela população» (Laranjo, 2010, p. 63). Assim acontece também no
Algarve onde os jardins, os passeios públicos e as alamedas, apetrechados com
mobiliário urbano, constituem novas zonas de lazer, a par do surgimento de outros
equipamentos como os mercados, os matadouros, as escolas, os teatros, os cinemas,
molas impulsionadoras dessa estrutura dinâmica, a urbe fervilhante.
O Algarve sempre constituiu
uma região bem demarcada e individualizada, quer em termos geográficos quer
identitários, com características históricas, etnográficas, arquitectónicas e económicas
específicas. Assim se explica, em grande parte, que tenha entrado no séc. XX
como região periférica com uma economia baseada essencialmente na cultura dos
frutos secos, na pesca, e na indústria conserveira; situação que se manteria
até ao final da década de 60 e à profunda alteração induzida pelo Turismo. Tal
como outras urbes algarvias, especialmente as situadas no litoral, Lagos
conheceu esta realidade e trilhou um percurso semelhante, tendo como pano de
fundo a paisagem marítima de surpreendente beleza, simultaneamente palco e tema
das atenções do olho mágico que tudo regista, essa admirável invenção do século
dezanove, a máquina fotográfica. Neste caso, a máquina de Crisógono dos Santos.
4. Quem foi António
Crisógono dos Santos
A história da Fotografia
em Portugal encontra-se ainda pouco estudada. Só no presente século é que
surgiram alguns trabalhos esmerados sobre o assunto, resultantes do
aparecimento de arquivos que deram origem a exposições e publicações de
referência. Só agora começamos a conhecer os primórdios da Fotografia em
Portugal, desde o surgimento entre nós, ocorrido pouco depois da sua invenção
na década de 1840: «O processo
difundiu-se rapidamente por todo o mundo ocidental, promovido tanto pela ânsia
do lucro como pelo puro gosto» (Sougez, 2001, p. 63). Em Lagos a
experiência não foi diferente do resto do mundo ocidental. Profissionais e
amadores registaram com mestria as paisagens do município e a vida da cidade ao
longo das décadas seguintes, pois «Com o
início do século a fotografia democratiza-se. A vulgarização das câmaras Kodak
e da película em rolo tornam a fotografia a companheira indispensável das
viagens, dos passeios, das visitas…» (Sougez, 2001, p. 285). Tais registos
constituem mais do que simples memórias gráficas, são autênticos documentos
históricos.
É sobre esta realidade que nos debruçamos, tendo por suporte alguns
exemplares das imagens que chegaram aos
nossos dias: os postais ilustrados, fototipias, de António Crisógono dos Santos
que ao longo de três décadas registou Lagos e as suas gentes,
deixando-nos esse testemunho iniciado na viragem do século dezanove.
Um repositório dos ilustres, referenciados na toponímia lacobrigense,
conta que Crisógono dos Santos nasceu na Sertã em 1862 e que veio ainda muito
jovem para Lagos onde se estabeleceu como comerciante em 1890, sendo «proprietário de um bom estabelecimento
situado na Rua Direita […] representante
da casa Jerónimo Martins & Filho, de Lisboa. Vendia de tudo um pouco,
nomeadamente: Papelaria, Mercearias, Depósito de Farinhas, Sabão, Petróleo e
Tabacos, e Vinhos do Porto» (Ferro, 2002, p. 304).
Sabemos que Crisógono dos Santos explorou a
carreira de carros Rippert entre
Lagos e a povoação da Luz, e recenseamos a sua proficiência como
vogal da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lagos. Pela sua acção
foi estabelecida a Feira Franca de Lagos, como refere uma acta de 1931: «A Comissão, por proposta do vogal, Sr.
Crisógono dos Santos, deliberou unanimemente estabelecer em Lagos uma nova
Feira anual de gado e outras mercadorias, isenta de qualquer taxa ou imposto
municipal de terrado, e que deverá realizar-se a contar do presente ano, aos
vinte e um dias de Novembro».
No
desempenho dessas funções públicas também exerceu papel importante na
instalação da rede de esgotos da cidade, na execução de túneis ligando praias e
na electrificação de áreas ribeirinhas. Mas é a actividade de fotógrafo e
editor de postais ilustrados que efectivamente interessa porque nos dá conta de
um passado a um século de distância. Nessa qualidade fotografou pessoas, locais
e eventos; registos que constituem, hoje, um importante património para a história
de Lagos. Tal, é o caso de várias fotografias que dão conta da relação de
proximidade da malha urbana com o rio e o mar, revelando uma cidade que,
vivendo, tal como outras dessa época, na dependência do hinterland, do mundo rural, assenta a sua existência também numa
intensa relação que tece com o mar.
Paradigmática, a sua visão da condição humana, que o impele a fotografar
aspectos autênticos do quotidiano lacobrigense, como o mendigo de roupas
esfarrapadas, o aguadeiro com a sua carreta, os camponeses na apanha dos figos,
os marítimos no bairro da Ribeira, numa escolha temática que evidencia um olhar
atento, talvez influenciado pelos grandes fotógrafos da época, como Carlos
Relvas (1838-1894); Emílio Biel (1838-1915); Domingos Alvão (1869-1946); ou Joshua Benoliel (1873-1932),
que certamente apreciaria nas páginas dos periódicos de então.
A par dos tradicionais registos fotográficos: monumentos e edifícios
públicos; ruas e praças da cidade; praias e paisagens rurais; também executou
trabalhos de foto-reportagem para publicações de cobertura nacional, como
atestam vários números da Ilustração
Portuguesa (cf. edições referenciadas
de 1905, 1914 e 1923). Umas fotos
ilustram artigos lisonjeiros, outras iluminam artigos críticos da realidade
local, mas todas incidem sobre algo que hoje identificamos como memória comum
ou memória da cidade; memória que remete para a identidade. Ora, a identidade
de um local assenta em vários factores dos quais destaco um muito especial: a
diferenciação – essência primordial daquilo que é singular, único e
inigualável. Admitamos que se trata de algo importante numa região que
apresenta aquilo que é, e aquilo que possui, como oferta turística.
Fechada a cortina e silenciado para sempre o obturador da máquina
fotográfica de Crisógono dos Santos, a sua actuação foi reconhecida pelos
lacobrigenses de forma cabalmente plasmada nas palavras do director do Jornal de Lagos, o farmacêutico Jacques
d’Oliveira Neves, que assim se lhe dirige em preito laudatório num texto datado
de 30 de Abril de 1934, no dia seguinte ao seu falecimento:
«Lagos perdeu em
tão prestante cidadão um dos seus mais dedicados amigos e entusiasta
propagandista das suas belezas naturaes, as quaes em tanto apreço as tinha […] Para mostrar as praias, os melhores pontos
de vista e tudo quanto era digno de ser visto, a quem pela primeira vez vinha a
Lagos e se lhe derigia, António Crisógono dos Santos, não hesitava em largar os
seus afazeres, a sua casa comercial e até com prejuízo dos seus interesses lá
ia com uma sublime dedicação prestar os esclarecimentos que tão preciosos se
tornavam para que Lagos fosse mais conhecido e apreciado e para o
desenvolvimento do seu turismo. Os melhores motivos decorativos encontrava-os
ele sempre nas suas fotografias».
5. Revelar a memória
latente
Reproduzindo acontecimentos distantes no tempo, as imagens apresentam-se
por vezes enigmáticas, sendo necessário recuperar a memória exacta daquilo que
encerram. Tomemos três exemplos.
5.1 Funeral de Marinheiro
A imagem documenta um cortejo fúnebre de
marinheiros em uniforme tropical. Os trajes dos espectadores e o casario
apontam para inícios do século vinte. Sabemos que é uma foto de
Crisógono dos Santos pois nalgumas edições consta o seu nome.
Enunciemos agora o que não sabemos mas pretendemos saber:
- Qual a nacionalidade dos marinheiros e em que ano ocorreu o funeral?
a) Não se conseguindo identificar claramente a bandeira que cobre o
esquife, surge a dúvida suscitada pelo desenho com sugestão de um listel
meridional; será a bandeira brasileira? Também o traje dos marinheiros poderia
continuar a induzir-nos no erro de os considerar oriundos de algum país
sul-americano mas, recorrendo ao método comparativo com outras imagens similares
- publicadas em revistas de marinha dessa época-, e com os contributos dos
investigadores brasileiros Carlos Daróz, historiador militar, e César Machado,
director da Revista Brasileira de
História Militar – questionados através de correio electrónico –, conclui-se
que se trata do uniforme tropical da Royal
Navy. Com esta certeza regressamos à bandeira: afastada a hipótese da
brasileira em favor da britânica resta esclarecer se a Royal Navy usava uma union
jack própria para funerais ou se estamos perante uma bandeira de Esquadra, a
do Mediterrâneo p.ex.; o investigador Roger Hull do Liverpool Record Office - questionado através de correio
electrónico -, aponta para a possibilidade de se tratar de uma bandeira de
esquadra, mas não é peremptório a este respeito. Porém, estabelecida, já, a
nacionalidade dos intervenientes, esta questão perde importância.
b) A proposta de datação para 1903 assenta na tradição oral, pois José
Francisco Paula Borba, octogenário lacobrigense e principal coleccionador de
postais ilustrados desta cidade - inquirido em entrevista - identifica a foto
como sendo de 1903, sem mais explicações do que o facto de sempre assim ter
ouvido dizer. Em 1905 ocorre em Lagos o funeral de um marinheiro inglês de uma esquadra
que aqui participou em exercícios navais. Desse cortejo fúnebre existem fotos
publicadas na Ilustração Portuguesa
de Agosto desse ano, no entanto essas imagens não são conclusivas em relação a
esta de Crisógono dos Santos. Para além disto, nos arquivos ingleses do Merseyside Record Office, o espólio do
marinheiro Robert Wilson indica que este se identifica numa foto constante nos
seus álbuns (dados como sendo, com muita probabilidade, de 1903), integrando um
cortejo fúnebre em Lagos - Wilson faleceu em La Valetta em 1904.
c)
Neste ponto da investigação – embora não concluída –, tudo aponta para uma
datação positiva referente a 1903.
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Foto Nº 2 – Funeral de marinheiro – António Crisógono dos Santos, c. 1903 |
5.2 Vendedeira com o seu burro
No segundo exemplo submetemos a fotografia de uma camponesa com o seu jumento,
aos comentários dos utilizadores de uma rede social, procurando recolher
depoimentos. Este recurso revela-se frequentemente profícuo pois permite
carrear muitos contributos verificando-se uma encorajadora percentagem de dados
úteis, ainda que por vezes se afigure difícil destrinçá-los dos fantasiosos.
Neste
caso, e ainda que a imagem incluísse a legenda “vendedeira”, a personagem foi
identificada por vários correspondentes como lavadeira, até com nomes
diferentes, e ainda como avó de uma das correspondentes. Isto, para além de ter
sido apresentada como esposa de um quinteiro de fulano de tal, ainda que sob
reserva. Não cabe aqui elaborar sobre antropologia social mas este episódio bem
pode ilustrar a ocorrência da projecção de experiências pessoais num ícone que
as evoca; acidente compreensível para muitos de nós que ainda tivemos
oportunidade de conviver com uma destas genuínas personagens da serra ou do
barrocal algarvio.
5.3 Mercado Municipal
O
último exemplo mostra como podem ser enganadoras as asserções que ao longo da
vida tomámos por exactas. O edifício do Mercado Municipal de Lagos, sito na
avenida marginal desta cidade, ostenta no seu frontão a data 1924, tomando-se
esse ano como o da sua construção e republicando-se exaustivamente esse dado
como autêntico. Ora, um postal circulado em 1914, mostrando o referido
edifício, lembra-nos que naquele local laborou uma fábrica de conservas de
peixe – a Fábrica Portugal, que em 1915 sofreu violento incêndio – e que a
estrutura edificada era a mesma; isto é: o edifício do mercado municipal é
muito anterior e essa data que ostenta, a qual deve ser entendida como marco
temporal da requalificação do edifício nas suas novas funções.
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Foto Nº 5 – Postal circulado em 1914 com edifício do actual mercado sinalizado – António Crisógono dos Santos, anterior 1914 |
Apresentámos, de forma sucinta, alguns dos passos envolvidos na
investigação de imagens simples e das suas histórias que, sem investigação,
permaneceriam apenas latentes, sem se revelar.
6. Conclusão
Para que as imagens não suscitem, no futuro, apenas a simples
interrogação “o que é isto?”, é indispensável recuperar estas memórias latentes.
As fotografias não só contam histórias da contemporaneidade como também
estabelecem pontes com um passado mais distante: As inúmeras fotografias de
esquadras inglesas fundeadas na baía de Lagos podem remeter para a longa
relação oficial luso-britânica que remonta ao tratado de Windsor, firmado em
1386: esta formidável força naval está nas nossas águas, abastece-se na nossa
cidade e é cordialmente recebida em recepções oficiais, e em matinés dançantes
nas colectividades locais, porque pertence aos nossos aliados de longa data.
Assim, numa sociedade que comunica intensamente através da imagem,
também podemos seduzir as novas gerações – relativamente alheias ao texto
escrito mas claramente sensíveis ao discurso iconográfico –, para as distantes
realidades históricas do país, da região, e do município. Mais um contributo da
Fotografia para a historiografia.
Para além disso, buscar o significado das fotografias antigas é mais do
que garantir a preservação de documentação importante para o conhecimento
histórico, também constitui homenagem àqueles que nos antecederam e aos seus
feitos, que não carecem ser de armas e conquistas, mas consumados no brio
anónimo de quem trabalha e com o seu trabalho move a aldeia, a cidade e o Mundo.
O retrato fotográfico é, por último, como que uma rasteira que a Vida
prega à Morte; desaparecida a pessoa retratada, quem a vai recordar senão os
seus familiares e amigos mais chegados, num espaço temporal que dificilmente
excede duas gerações?! Ora, saber quem são aquelas pessoas que deixaram o seu
rosto num papel brometo, o que fizeram em vida e de que forma influenciaram
aquilo que nós somos, é uma forma de os manter vivos. Manter viva a memória
dessas pessoas é como limpar continuamente a poeira que o tempo vai
desprendendo, não a deixando acumular.
Substituindo aquele aforismo inventando nos anos 20 do século passado,
por um publicitário norte-americano, que postulava: “uma imagem vale por (dez)
mil palavras”, afirmamos:
- Uma fotografia desperta mil memórias mas relata uma história. Saibamos
lê-la.
7. Fontes e Bibliografia
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