26-01-2018 por André Silva
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foto picada da net |
«Face à forte diminuição do consumo de leite que se faz sentir desde
2008 e à brusca redução nos últimos dois anos, a Indústria do Leite reage como
é seu hábito alertando para as "campanhas difamatórias do leite". Se
até há pouco tempo a informação que chegava aos cidadãos era quase
exclusivamente ditada pelo negócio do leite veiculada pelas campanhas
publicitárias e pelos ecos mediáticos, sem qualquer contraditório, nos últimos
anos, com a globalização e a democratização da informação através da Internet,
cada vez mais pessoas têm acesso a informação técnica e científica sobre os
enormes impactos no ambiente, na saúde e na vida dos animais. Consumidores mais
informados, fazem opções mais conscientes.
No entanto, sem o lucro desmedido de outros tempos e sem argumentos
válidos, o Negócio do Leite em vez de interpretar e acompanhar uma sociedade em
evolução, opta por atacar os consumidores que, de forma consciente, cada vez
menos compram os seus produtos.
Não é preciso recuar muito na memória para nos recordarmos da escassa
oferta existente nos supermercados na década de 70 para quem pretendesse
adquirir leite. Decorridos cerca de 40 anos, hoje torna-se difícil a escolha do
tipo de leite face à actual oferta, quer nas grandes superfícies, quer até nos
pequenos supermercados.
A panóplia de tipos de leite e de outros produtos lácteos disponíveis
no mercado é o resultado de um esforço da indústria apoiado na investigação
laboratorial e na inovação tecnológica introduzida no processamento industrial
do produto base leite. Por outro lado, este sector de negócio apostou num forte
investimento em marketing que incutiu nas instituições do Estado e nos
consumidores a suposta necessidade de consumir leite, instituindo-o como um
"alimento essencial" e cujo escoamento é desmesuradamente beneficiado
por políticas fiscais favoráveis e por investimento de dinheiro público.
Para além disso, muitos consumidores acreditam ainda que as vacas têm
leite espontaneamente, mas a realidade é bem mais mundana. À semelhança de
qualquer outro mamífero, as vacas só produzem leite para efeito de alimentação
dos seus vitelos recém-nascidos. Tal como as mulheres só geram leite com o
nascimento dos seus filhos, as fêmeas usadas na produção de leite só geram
leite com o nascimento das suas crias. Para manter uma produção quase
ininterrupta de leite, na indústria as vacas têm de ser repetidamente forçadas
a emprenhar através de inseminação artificial com separação das suas crias
pouco tempo após o nascimento.
Li recentemente uma frase de George Orwell que se aplica aqui na
perfeição, "Num tempo de fraude universal, contar a verdade é um acto
revolucionário" e somos cada vez mais pessoas a perceber que consumir
lacticínios é validar, financiar e perpetuar esta poderosa indústria e as suas
práticas.»
https://www.sabado.pt/opiniao/detalhe/um-cidadao-informado-nao-bebe-leite
Nota: O período de produção de leite de qualquer vaca começa quando o
bezerro nasce. Para ser prolongado, é preciso que depois do desmame – que
ocorre, em média, após 60 dias no caso do gado de leite – a mama do animal seja
estimulada pela ordenha natural ou mecânica. Quando a mama é sugada ou
pressionada, uma mensagem é enviada ao cérebro da vaca, estimulando a glândula
hipófise, que libera oxitocina. Essa substância chega à mama pela corrente
sanguínea, contraindo as fibras musculares e forçando a produção e libertação
de mais leite.
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