«Chegou apressada, nervosa e
vulnerável, incapaz de remover o plástico do maço de cigarros que pretendia
fumar, iniciando-se tardiamente naquele vício, agora, para lá da meia-idade e
perante a reprovação de um neto, dizia. Auxiliada na tarefa de remoção do impertinente
plástico, despejou um percentil da vida em sinopse nérvea, implicando o recente desentendimento
com o namorado e a toxicodependência do filho, tragédia que lhe provocou uma
depressão. Entre o sorriso teatral e a lágrima encenada, deitou-se à arte divinatória
decifrando o signo do interlocutor e daí retirando o imperativo em jogar na
lotaria, dada a assertividade manifestada. Concluiu a actuação efectuando o
último item requerido, o contacto físico, pelos ósculos de despedida que
solicitou; e foi-se, com as indicações da papelaria onde poderia comprar um
duodécimo – jogo, para si, enigmático -, e a recomendação de se abandonar ao
areal e às águas da praia urbana onde aqueles elementos naturais reverberam a
força do astro-rei e diluem os achaques psicológicos. Que tenha muita sorte.»
Continuam amadores!
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