A questão
das arribas instáveis e da recarga/ampliação do areal das praias
Algumas
notícias dos últimos anos
20 de
Setembro de 2014
«Algarve investe mais dois milhões a “engordar” praias
de Lagoa e Albufeira
Manter a praia de
Quarteira custa seis milhões de euros. Ao fim de dez anos desaparece a areia,
volta tudo ao mesmo. E a construção de esporões, dizem os especialistas, não é
alternativa.
O Algarve vive um
dilema: deixar cair livremente as arribas ou investir milhões para retardar o
efeito da erosão? A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) tem em curso mais uma
operação de alargamento de seis praias nos concelhos de Lagoa e Albufeira — um
investimento superior a dois milhões de euros. A cada Inverno que se aproxima
crescem os receios sobre os avanços do mar mas isso não impede que se continue
a querer construir empreendimentos nas zonas de risco.
A praia de
Quarteira, por exemplo, beneficiou de uma recarga de areias há quatro anos para
se manter, que foram sugadas do mar. Das toneladas de detritos que foram
depositados ao longo da costa, numa extensão de cerca de quatro quilómetros, já
desapareceu 45%.
Agora, e à
semelhança do que foi feito em 2010 em seis praias do concelho de Loulé — Vale
do Lobo, Dunas Douradas, Vale Garrão, Forte Novo, Almargem e Loulé Velho, está
a decorrer mais uma recarga de areia em Lagoa. O processo de realimentação para
que as praias fiquem com uma largura de cerca de 40 metros começou no final de
Agosto na Praia Nova, junto ao promontório de Nossa Senhora da Rocha (Lagoa),
prevendo-se que dentro de um a dois dias termine o trabalho na praia da Cova
Redonda, passando depois às praias da Coelha e do Castelo, em Albufeira. A
operação deverá estar concluída até Novembro. Na fase final, são as praias de
Benagil e Carvoeiro (Lagoa), as beneficiadas.
Mas será esta a
solução? A principal fonte de alimentação das praias, recordou o director
regional da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Sebastião Teixeira, “são as
arribas, que caem de forma natural”. Só que este processo natural leva um tempo
que não se coaduna com as exigências dos interesses ligados ao turismo, que
reclamam a consolidação das arribas. Uma exigência que levou o Instituto da
Água, há cerca de 15 anos, a tomar uma medida polémica no concelho de
Albufeira: mandou forrar as arribas da praia dos Pescadores a betão, e pintar o
cimento de cor amarelada. A justificação para a intervenção foi a
“salvaguarda das pessoas e bens”.
Por causa deste
dilema, realizou-se recentemente em Quarteira um debate sobre “Que futuro para
o Algarve, sem praias?” O tema veio a propósito da apresentação do projecto
Change — um estudo coordenado pela investigadora Luísa Schmidt, do Instituto de
Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, que visa analisar os
problemas de natureza social e ambiental na linha de costa, tendo-se focado em
três casos — Caparica (Almada), Barra-Vagueira (Aveiro) e Quarteira.
O que se deve então
fazer para manter as praias: construir esporões ou fazer a recarga artificial
do areal? “O problema não está no tipo de intervenção”, responde Alveirinho
Dias, especialista em dinâmica costeira. O problema, sublinha, “está no
ordenamento do território — construiu-se em zonas de risco”. No mesmo sentido,
Luísa Schmidt chamou a atenção para os casos da Caparica e Vagueira (Aveiro) —
uma questão que, disse, “exige monitorização”, tendo presente que “há um preço
a pagar” para mitigar os erros urbanísticos. No caso de Quarteira, observou
Sebastião Teixeira, “sabe-se que, de dez em dez anos, é preciso investir seis
milhões de euros para manter a praia”.
O presidente da
junta de freguesia, Telmo Pinto, perplexo, comentou: “Estamos dependentes do
turismo, e sem praia não há turistas”. Da plateia, uma das convidadas para o
debate defendeu a necessidade de prosseguir com a construção de mais esporões,
a nascente, sugerindo que essa poderia ser a solução a replicar por toda a
costa. O director regional da APA discordou: “Podia resolver-se um caso
pontual, mas deslocava-se o problema para outro sítio”, disse. No mesmo
sentido, ao PÚBLICO, Alveirinho Dias, afirmou: “Há mais de meio século que se
conhece o resultado da construção de esporões — os problemas do litoral não
estão relacionados com a dinâmica costeira, o problema está na ocupação do
território em zonas de risco”.»
Fonte: Público
21 .08.
2014
«Algarve tem 75 praias em perigo de derrocada mas
veraneantes não ligam
Pelo menos 75 praias
do Algarve apresentam arribas com sinalização que alerta para o risco de
derrocada, de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, mas a maior parte continua
a servir de encosto para veraneantes.
Cinco anos depois da
derrocada na praia Maria Luísa, em Albufeira, na qual morreram cinco pessoas e
três ficaram feridas, os perigos continuam à espreita, uma vez que as zonas de
risco - que correspondem à área passível de ser ocupada pelos resíduos de
desmoronamentos, com largura igual a 1,5 vezes a altura da arriba – continuam a
ser ocupadas.
A Agência Portuguesa do Ambiente enumera, na sua página na internet, uma lista das praias algarvias cujas arribas estão em risco – costas rochosas que são permanentemente ou periodicamente expostas à ação do mar – sendo o concelho de Albufeira aquele que mais apresenta este problema, num total de 24 praias.
O concelho de Lagoa surge na segunda posição com 17 praias sinalizadas, seguido de Vila do Bispo (11), Portimão (9), Aljezur (7), Lagos (5) e Silves (2).
A Agência Portuguesa do Ambiente enumera, na sua página na internet, uma lista das praias algarvias cujas arribas estão em risco – costas rochosas que são permanentemente ou periodicamente expostas à ação do mar – sendo o concelho de Albufeira aquele que mais apresenta este problema, num total de 24 praias.
O concelho de Lagoa surge na segunda posição com 17 praias sinalizadas, seguido de Vila do Bispo (11), Portimão (9), Aljezur (7), Lagos (5) e Silves (2).
A Marinha Portuguesa
avançou à agência Lusa que a zona do barlavento algarvio é aquela onde a sua
atuação é maior, nomeadamente entre a praia da Falésia (Albufeira) e a praia de
Odeceixe, na Costa Vicentina, onde, pela “natureza do terreno existem falésias.
De acordo com a autoridade, as pessoas passaram a revelar dois tipos de comportamento depois do acidente ocorrido em 2009 na praia Maria Luísa: há aquelas que têm “maior sensibilidade para o problema e que se acautelam, outras que são totalmente indiferentes”.
De acordo com a autoridade, as pessoas passaram a revelar dois tipos de comportamento depois do acidente ocorrido em 2009 na praia Maria Luísa: há aquelas que têm “maior sensibilidade para o problema e que se acautelam, outras que são totalmente indiferentes”.
Ainda assim, a
“grande maioria” dos banhistas aceita os conselhos da autoridade quando a
Polícia Marítima vai autuar e sensibilizar para os perigos que estão sujeitos
por se encontrarem em zonas de perigo.
Este ano, e até 31
de julho, ainda não foi registada qualquer contraordenação neste âmbito,
explicando a Marinha que, desde 2009, foram passados nove autos no continente e
ilhas, por transposição de barreiras de proteção e acesso a zonas de arribas
interditas e por permanência em zonas de perigo e assinalada devido a risco de
derrocada.
Foram ainda, de acordo com os dados da Marinha Portuguesa, detetadas 251 infrações relativas à proibição de circulação e estacionamento nas praias, dunas e arribas, fora dos locais estabelecidos para esse efeito.
Foram ainda, de acordo com os dados da Marinha Portuguesa, detetadas 251 infrações relativas à proibição de circulação e estacionamento nas praias, dunas e arribas, fora dos locais estabelecidos para esse efeito.
Segundo dados do
Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, o valor estimado
para a percentagem de território nacional afetado por erosão costeira ronda os
30%, numa extensão de costa de cerca de 845 quilómetros, composta por troços de
costa arenosa (praias e dunas) e rochosa (arribas).
Três
anos depois do acidente mortal em Albufeira, o Governo decidiu que as praias de
falésia e areal reduzido passavam a ter uso limitado e agravou as coimas para
banhistas acompanhados de crianças que estejam em zonas interditas.
As multas podem ir dos 30 aos 100 euros no caso de permanência em zonas interditas ou, se forem usadas para qualquer outro fim ou atividade, incluindo o acesso, atravessamento ou a circulação a pé.
As multas podem ir dos 30 aos 100 euros no caso de permanência em zonas interditas ou, se forem usadas para qualquer outro fim ou atividade, incluindo o acesso, atravessamento ou a circulação a pé.
Este
ano, segundo a lista publicada em Diário da República, após avaliação técnica
no terreno, são 30 as praias portuguesas de uso limitado (29 no continente e
uma na Madeira), nas quais não é possível guardar uma determinada distância de
segurança relativamente à arriba, por exemplo em maré cheia.
O concelho algarvio
de Lagoa é aquele que apresenta o maior número de praias
de uso limitado, com sete, seguido de Vila do Bispo (três), Lagos e Albufeira (duas), Portimão e Aljezur (uma)
e duas na Zambujeira do Mar, concelho de Odemira.
Na costa lisboeta,
surge uma praia de uso limitado em Cascais, três em Sintra enquanto na zona
oeste encontra-se uma em Peniche, Mafra e Torres Vedras e duas em Óbidos e
Lourinhã..»
Fonte: LUSA
19.10.2009
«Praias recuam 2 metros.
As arribas arenosas do Algarve recuam, em média, 1,4 metros por ano, segundo um relatório sobre a Gestão do Litoral da Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARH-A).
As arribas arenosas do Algarve recuam, em média, 1,4 metros por ano, segundo um relatório sobre a Gestão do Litoral da Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARH-A).
Está em causa um dos troços mais
turísticos da região, entre Olhos d’Água (Albufeira) e Garrão (Loulé), que
inclui Vale do Lobo. Os especialistas constataram que o Trafal registou um
recuo médio anual de 84 centímetros, enquanto o Forte Novo atingiu 2,27 metros.
No País, só existe uma erosão semelhante: em Pinheiro da Cruz (Grândola).
Para tentar minorar o problema, as
praias mais afectadas vão ser alvo da maior operação de alimentação artificial
já realizada no País: 8,6 milhões de euros para encher cinco quilómetros de
praia, num total de 1,2 milhões de metros cúbicos de areia dragada do mar. O
areal irá aumentar 40 metros de largura. Cinco praias de
Albufeira, com uma extensão de dois quilómetros, também vão ser enchidas até ao
Verão, num custo de quatro milhões de euros. O Litoral
algarvio de arribas arenosas não apresenta uma taxa de recuo homogénea. Em declarações ao CM, Alveirinho Dias, investigador da Faculdade de
Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade do Algarve e especialista em
erosão costeira, refere que "entre Olhos d’Água e Vilamoura recua menos
devido à protecção de molhes", verificando-se o maior impacto na zona
entre Forte Novo e Garrão.
Num estudo elaborado pelos investigadores
Sérgio Oliveira, João Catalão, Célia Sousa e Alveirinho Dias é referido que
"a faixa costeira entre Forte Novo e Garrão, a oriente de Quarteira, é um
bom exemplo de um litoral de arribas sujeito a acentuada erosão", ampliada
"pela construção de estruturas rígidas (molhes de entrada da Marina de
Vilamoura e campo de esporões de Quarteira".
PRIVADOS PAGAM 70 POR CENTO
O concurso público da obra de enchimento
das praias de Loulé foi lançado em Setembro. O investimento, de 8,6 milhões de
euros, é suportado em 70 por cento pelo grupo Vale do Lobo, cabendo os
restantes 30 por cento ao Estado. O prazo de execução da empreitada é de 182
dias, devendo estar concluída antes do pico do Verão de 2010. A praia de D. Ana, em Lagos, é outra das praias sujeitas a recarga de
areia.
ARRIBAS ROCHOSAS SÃO RISCO
A praia Maria Luísa (Albufeira), onde
morreram cinco pessoas no dia 21 de Agosto, tem arribas consideradas rochosas,
características da zona mais barlaventina do Algarve. Neste tipo de formações,
segundo o relatório sobre o acidente da Administração da Região Hidrográfica do
Algarve (ARH-A), "as taxas médias de recuo não têm utilidade na avaliação
do risco", dado que a sua evolução se "processa por uma sequência de
movimentos de massa descontínua no espaço e no tempo". Segundo a ARH-A, nos últimos 14 anos registaram-se, em média, 14
movimentos por ano de massa nas arribas do Barlavento, dos quais cerca de
metade têm largura maior ou igual a um metro.
"A SOLUÇÃO NÃO É DESTRUIR"
"Todas as arribas são perigosas,
quer sejam rochosas ou não-consolidadas. A solução não passa por destruir este
património, mas sim por responsabilizar os cidadãos", defende Alveirinho
Dias, investigador da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente da
Universidade do Algarve. Nas zonas de praias
concessionadas deverão ser feitas intervenções pontuais quando existir risco
para os utentes, mas em zonas não-concessionadas "o cidadão deve estar por
sua conta e risco", considera o especialista em erosão costeira.
QUEDAS SÃO IMPREVISÍVEIS
O tipo de ocorrência verificado na Maria
Luísa "tem nível de previsibilidade muito baixo", não existindo
"capacidade de prever quer a data da ocorrência, quer o local onde poderá
ocorrer um fenómeno desta natureza, cujo nível de previsão é idêntico ao dos
sismos". Segundo a ARH-A, a faixa de risco para o mar (espaço que deve ser
guardado como distância de segurança) corresponde a uma vez e meia a altura da
arriba – no caso de ser rochosa – e a um espaço igual ao da altura da arriba,
se for arenosa.
DISCURSO DIRECTO "NÍVEL DO MAR PODE
SUBIR UM METRO": Filipe Duarte Santos Professor de Física na Univ. Lisboa
Correio da Manhã – Que risco representa
o recuo das arribas arenosas no Algarve? Filipe Duarte Santos – No Algarve
existem diferentes tipos de arribas. As da costa sul são mais instáveis. Já as
da costa oeste são mais resistentes. Mas é um facto que as arribas estão a
recuar. É necessário monitorizá-las e demolir as que apresentam perigo.
– Em que zona costeira do País a
situação é mais preocupante?
– Existem zonas mais vulneráveis do que
outras. Se partirmos do Norte, a zona desde a Cortegaça até à Barra de Aveiro
tem um recuo da costa muito pronunciado. Assim como a zona desde a praia do
Ancão até à foz do Guadiana, no Algarve.
– Porquê? – A subida do nível do mar é um dos factores. No século passado, o nível
do mar subiu cerca de 15 cm em Portugal. Actualmente sobe 3,5 mm por ano. Se
este ritmo se mantivesse, subiria 35 cm neste século, mas a verdade é que está
a aumentar. Até ao final do século calcula-se que o nível do mar possa subir 1
metro.
SAIBA MAIS CUSTO DA SINALIZAÇÃO
A colocação de placas a alertar para os
riscos das arribas custa um a dois euros por metro linear. As placas têm um tempo
de vida de dois anos. 25 euros é o preço máximo por metro de rede a isolar zona
de risco e dura de 5 a 10 anos. 300 euros é o custo máximo de desmonte de
arribas, como o realizado na praia Maria Luísa, e reduz o risco por 10 a 50
anos.
COLOCAÇÃO DE AREIAS
A alimentação artificial atinge os 500
euros por metro e dura entre cinco e dez anos. A contenção das arribas custa
cinco mil euros e tem uma ‘garantia’ de 25 a 50 anos.
NOTAS CAPARICA: 22 MILHÕES DE EUROS
O reforço dos espigões e a alimentação
artificial com areia das dunas da Costa de Caparica envolvem uma obra de 22
milhões de euros, que ficará pronta no próximo ano
VIGILÂNCIA: ARRIBAS DO OESTE
O Instituto da Água tem a trabalhar uma
equipa de vigilância das arribas situadas no troço do Litoral entre a praia de
São Pedro de Moel (Marinha Grande) e o limite sul do concelho de Mafra
LITORAL: 300 MILHÕES DE EUROS
O ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia,
disponibilizou 300 milhões de euros para protecção da zona litoral dos
distritos de Aveiro, Faro, Braga e Viana do Castelo»
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