[excerto de artigo corrigido para ortografia
portuguesa legítima]
O
que leva os investidores a emprestar a um Tesouro público sabendo que, se
conservar os títulos até à maturidade, irá receber menos do que emprestou? Uma
das respostas é, precisamente, que alguns deles não irão manter os títulos
até à data da maturidade. Para os investidores mais rápidos, que compram e
vendem títulos da dívida, pouco importa que a Alemanha reembolse, em 2021,
apenas 100 euros por cada 114 euros que a obrigação custa neste momento, se
acreditar que consegue vender o mesmo título a outro investidor a 115, 116 ou
117 euros daqui a alguns dias ou semanas. Ou seja, se as obrigações continuarem
a subir (e a rendibilidade implícita a cair, porque é assim que funciona o
mercado de dívida) a mais-valia pode existir mesmo que já se esteja a negociar
a níveis elevados.
A
razão principal para este fenómeno é, contudo, a falta de alternativas. Os
grandes bancos, seguradoras e fundos de pensões têm de aplicar os seus recursos
em algum lado. Mas não em qualquer lado: as únicas alternativas aos depósitos
no BCE – que lhe dissemos no início deste trabalho que não só não remuneram o
investidor como, na verdade, lhe cobram uma taxa de 0,2% – são, em muitos
casos, a dívida com rating elevado. As regras internas de muitas
destas entidades limitam os locais onde se pode investir a activos com boa percepção
de risco, já que tendem a ser investidores muito conservadores. Aqui, sim, os
títulos costumam ser conservados até à maturidade, pelo que muitos não têm
alternativa a investir na dívida alemã ou francesa, por exemplo, que paga
cupões anuais positivos mas irá reembolsar menos do que o montante investido.
A
explicação principal para este fenómeno está ligada ao “desequilíbrio muito
forte entre oferta de dívida pública de alta qualidade e procura por
parte das seguradoras, bancos, outros investidores institucionais e, agora, o
BCE”, nota Diogo Teixeira. “Se eu gerisse um fundo de obrigações de Estados
europeus, obedecendo a uma política de investimento constrangedora, estaria
praticamente obrigado a comprar títulos com rendibilidades negativas, ou
próximas de zero”, explica Diogo Teixeira. “Outras categorias de investidores,
nomeadamente seguradoras, obedecem a regras de calculo de fundos próprios
ponderados pelo risco que também tende a favorecer o investimento em obrigações
de estados europeus com ratings A ou superiores”, acrescenta. Em
termos simples, “não estamos perante investimentos de convicção mas sim forçados por
critérios regulamentares e por falta de alternativas”, diz Diogo Teixeira, da
Optimize.
A
crise da dívida europeia estreitou o conjunto de Tesouros públicos merecedores
de rating máximo, e depois da despromoção da Finlândia apenas a
Alemanha e o Luxemburgo têm notação de crédito AAA na zona euro, aos olhos da
agência Standard & Poor’s. O resultado foi a concentração da procura
nestes títulos vistos como menos arriscados e noutros, com rating alto
ainda que não máximo, como França ou Áustria. Desde Julho de 2012, quando Mário
Draghi prometeu “fazer tudo, dentro do mandato, para preservar o euro” e
lançou o programa de compra de dívida OMT, a percepção de risco em
relação à dívida pública (por outras palavras, o risco de desmembramento da
união monetária) melhorou drasticamente, o que fez cair os juros que estavam em
níveis extraordinariamente elevados.
(…)
A
opinião de que as taxas baixas irão dinamizar a economia é a visão optimista.
A visão não tão optimista encontra-se, por exemplo, nas palavras do
alemão Hans-Jörg Vetter, presidente executivo da caixa de crédito
pública Landesbank Baden-Württemberg (LBBW). “Deixou de haver uma
definição do preço do risco”, um elemento essencial para manter o equilíbrio
nos mercados e nas economias, encaminhando as diferentes poupanças para os
diferentes níveis de risco. “Tenho receio de que apenas gradualmente nos
estejamos a aperceber das consequências de médio e longo prazo deste
financiamento europeu à dívida”, afirmou o responsável, chamando a esta “a mãe
de todas as bolhas“.
Diogo
Teixeira acredita, contudo, que “é possível que esta bolha nunca venha a
rebentar, esvaziando progressivamente quando a situação económica da zona euro
voltar a ser mais favorável”. Mas, se a maré virar subitamente,
“embora não seja na minha opinião o mais provável, um cenário de choque forte,
com uma subida de 2%-3% das taxas de juro em menos de um ano, é
possível e teria consequências muito fortes para todo o sector financeiro
e, em particular, para as seguradoras europeias. E quanto mais tempo durar este
período de taxas 0%, pior será, com o stock de activos dos
investidores a ser progressivamente renovado com obrigações de rendimento
nulo”, alerta o especialista.
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2 comentários:
No transacto dia 09.04, no «Pleitos», editei - http://pleitosapostilas.blogspot.pt/2015/04/nao-e-com-palha-que-se-apagam-fogos.html -
«O problema não são os “tropeços” ou tropeções que os homens dão [quem anda à chuva pode molhar-se e quem se molha, seca-se] e ainda menos é “a maioria levantar-se e seguir em frente” [quem quer bolota, trepa]; o problema é que, depois, decidem fazer “como se nada tivesse acontecido” [aconteceu por responsabilidade ou culpa de “outrém”, certamente].
Os meus "bons papéis" já os despachei em alta velocidade. Mal por mal e até novas ordens, só cédulas fiduciárias. E mesmo essas porque não tenho "envergadura" para as trocar por outras de maior valor fiducial.
Preparem-se para o estouro, próximo. Vai troar como nenhum outro, antes.
Olhe aqui há meio ano atrás estive vai não vai para editar uma coisa que titulei ~ Economia de "guerra" ~. Ainda bem que me arrependi a tempo - era pura perda de tempo e faria figura de parvo. O resultado das próximas legislativas trará a razão para mim, infelizmente.
de bolha em bolha até ao calo final.
Abraço.
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