Certamente, devemos tomar muita atenção às alterações
que produzimos na Natureza, pois a história recente já nos ensinou como é fácil
à civilização tecnológica hodierna produzir alterações negativas com resultados
irreversíveis, mas também convém não esquecer que toda a caminhada da
humanidade assentou sempre numa luta contra a Natureza, uma luta de alteração
da Natureza segundo as nossas necessidades e conveniências, uma luta assente e
justificada pelas relações de contingência que se colocavam à sobrevivência das
comunidades humanas.
Hoje, essas contingências não advém tanto das necessidades de sobrevivência,
mas da manutenção de opções de vida com o consequente desenvolvimento que
resulta do paradigma de sociedade que construímos; porventura, errado.
A opção de ampliar o areal da Praia Dona Ana é criticável, e certamente o mar
se encarregará de remover muita da areia lá colocada artificialmente. Por
exemplo, a praia de Quarteira perdeu em 4 anos 45% da areia lá colocada, e
ainda que a Dona Ana tenha um coeficiente de desassoreamento mais lento, e que
a técnica utilizada para segurar as areias seja mais eficaz, podemos esperar
que o mar se encarregue de reduzir todo este esforço e o tamanho da nova praia.
Mas também é verdade que no norte da Espanha (e, salvo erro, na praia francesa
de Biarritz), existem praias em que a areia é recolhida quando chega o Inverno,
para evitar que as tempestades a removam – e mesmo assim é necessário fazer
recargas periódicas.
Praia Dona Ana em 2015.05.23 - 16h18 |
A questão da Dona Ana deve colocar-se nesta vertente: queremos, ou não, ter uma
praia funcional na Dona Ana considerando que, segundo a legislação vigente, aquilo
que existe até agora implicaria encerrar a praia a banhos?! É verdade que o erro maior foi
cometido ao longo das últimas décadas, a construção ambientalmente desregrada sobre as arribas, mas, sendo Lagos um destino de férias assente no produto Sol e
Praia podemos/devemos optar por descartar esta praia da oferta turística, em nome de uma defesa ambiental? Voltamos à
questão da contingência, neste caso, económica, e ao modelo de desenvolvimento
a que aludi atrás.
Por outro lado, gostava que me explicassem como é que
enterrando parcialmente os rochedos, que sofrem naturalmente uma erosão brutal
do mar e do vento, estamos a destruí-los?! A mim, parece-me que estamos a
preservá-los.
Quanto aos problemas estéticos, se os considerasse tão importantes teria de
evocar as minhas preferências pessoais, um pouco como fazem os “ambientalistas”
(que a carpir rasgam as vestes e desenham esquifes em memória da praia Dona
Ana), e então diria: não mexam na Dona Ana, antes a encerrem ao uso e deixem-na ficar assim, lindíssima para fotografar - enquanto a Natureza não a alterar. Mas isto seria apenas
uma manifestação movida por um interesse pessoal, individualista e não
comunitária.
Diz quem sabe (o professor Alveirinho Dias, da Universidade do Algarve), que
«Todas as arribas são perigosas, quer sejam rochosas ou não-consolidadas. A
solução não passa por destruir este património, mas sim por responsabilizar os
cidadãos. Nas zonas de praias concessionadas deverão ser feitas intervenções
pontuais quando existir risco para os utentes, mas em zonas não-concessionadas
o cidadão deve estar por sua conta e risco». E indicam os especialistas que «o
método mais eficaz e menos oneroso passa pela contenção das arribas»,
cimentando-as de alto a baixo.
Enfim, é muita areia para certas camionetas, a minha incluída.
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