Entrei na sala onde,
na minha ausência, teria caído um silêncio repentino e recente, para receber o singular
pedido de um dos meus acompanhantes que ficara no interior, abeirado à mesa, sentado
numa daquelas cadeiras de atabúa tradicionais da serra fronteiriça que o
Algarve partilha generosamente com o Alentejo, certamente recompondo-se da
caminhada íngreme, descansando as pernas mas dando serviço aos olhos no
apreciar do presunto que enfeitava o centro da mesa, tendo declinado a oferta
do dono da casa para visitar as pocilgas e admirar o sovão de 20 arrobas, pai
de toda a criação suína do monte.
- Aqui esta rapariga
anda a contas com a vida sem saber se há-de seguir os ditames da cabeça ou os
ímpetos do coração, tu que és sábio, o que aconselhas? Meneando a cabeça para o
lado esquerdo, onde uma jovem morena de olhos brilhantes nos observava, de
cabeça meio inclinada para a frente, envergonhada.
Suspirei de cansaço
físico, ou enfado com aquela apresentação de sábio, e decorrida a eternidade de
microssegundos que os neurónios despendem na organização da resposta, talvez espirituosa
para tal desafio, respondi, mesmo sem saber a verdadeira natureza da questão.
- Existem três
respostas para essa questão, a resposta sábia, a resposta prudente, e a
resposta que move o mundo, qual das respostas queres, menina?
Sorrindo, ainda meio
envergonhada mas já com a cabeça levantada, respondeu-me.
- Sei lá, estes é
que estão para aqui a inventar que tenho males de amores, e escancarou o
sorriso baixando de novo a cabeça.
Olhei a jovem que
não teria mais de 16 anos e, desejando acabar com aquilo rapidamente para me
poder sentar e libertar o dono da casa para o convite de atacar o presunto,
disse.
- Olha dou-te as
três respostas pelo mesmo preço. A resposta sábia diz que se seguires o coração
partirás a cabeça, e se seguires a cabeça partirás o coração; a resposta prudente
recomenda que tomes uma cadeira e te sentes, esperando que algum coração ou
alguma cabeça venha partir-se em ti; e a resposta que move o mundo incita a que
sigas o impulso mais forte, seja ele o da cabeça ou o do coração, assim como
assim nunca há a certeza de que um impulso do coração não seja apenas uma
ilusão da cabeça, tanto quanto uma tontura não possa ser um achaque do coração.
- E não me perguntes
mais pois não sei mais. A sabedoria é uma coisa muito pequenina, muito menor do
que a ignorância. Se pretendes insistir numa resposta directa e simples pergunta
aos ignorantes, esses têm resposta para tudo.
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