Para o bem e para o mal as redes sociais
vieram para ficar, dando voz à populaça. Uma voz por vezes imbecil e
impertinente, e raras vezes pertinente e consequente; afinal de contas
espelhando a soma das iliteracias e desinformações de cada uma das vozes
singulares, reunidas na monumental arenga cacófona própria de um país com grave
deficit de instrução e informação.
As redes sociais já conduziram à
demissão de altos cargos da administração pública (Espanha e E.U.A. são disso
exemplo), e vão, paulatinamente, ainda que de modo acanhado entre nós,
portugueses, obrigando a que aquela classe possidente e nada democrática, dos
políticos, vá sentindo os ventos da mudança, particularmente no que respeita à
ética e à moralização da sua actividade. O que acabo de dizer não constitui o
reconhecimento de que a tendência abusiva e abusadora, que os tem caracterizado
nestas quatro décadas e meia de Democracia, esteja em retrocesso. Só um ingénuo
pensaria assim. Até porque, frequente e ardilosamente, o episódico e singular
discurso de mea culpa não passa de estratégia eleitoralista, minuciosamente calculada
no tempo e no lugar. Não nos iludamos, portanto.
Porém, qualquer reflexão séria e
consciente sobre a qualidade dos políticos que temos terá de equacionar a
constatação da estreita ligação desses políticos com o povo que somos. Eles não
vieram de Marte, foram e são extraídos do mesmo húmus material e cultural onde
todos medramos.
Se a maior parte de nós se recusa
a construir Democracia, porque vira as costas à discussão dos problemas e à
participação cívica - por achar essa discussão inquinada e manipulada pelos
políticos “profissionais” -, pelo menos devemos usar a voz para fazer ouvir que
estamos descontentes. E nem que seja por motivos exclusivamente eleitoralistas,
algum efeito poderá resultar. Porque se os políticos não corrigirem o seu abuso,
nunca incutirão nas massas os valores éticos imprescindíveis à vida em
comunidade e em democracia. E o seu exemplo ficará apenas ao serviço da
destruição moral da sociedade.
Triste exemplo, o de Sócrates e o
dos actuais dirigentes do PS, triste e perigoso exemplo para o País, como tem
acontecido.
E agora por isso, onde andará
aquele rapaz, do meu partido, que em tempos idos telefonou ao progenitor transmitindo
com urgência ministerial a importante mensagem: - Papá, já sou Ministro! Aposentou-se
com os bolsos recheados de milhões de euros ilegalmente subtraídos aos
contribuintes, e goza hoje um invejável descanso num destino exótico?!
Há quem diga que vergastar com vara
de loureiro é melhor discurso do que palavreado pendurado numa rede social.
Parábola final da Homilia
“O trigo só é sovado porque
é trigo; fosse joio, nem seria tocado por quem o debulha.”
*sei que, tradicionalmente, é a vara de marmeleiro que se usa mas, ao substituí-la pela de loureiro, tento evitar o desbaste daquela árvore da qual depende o fabrico de um produto tão apreciado pelos portugueses: a marmelada.
2 comentários:
Concordo em absoluto, João José Horta Nobre.
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