Espaço Pessoal
“Subtil como um paquiderme” é a definição que elegi há muitos anos para designar os desastrados e particularmente aquelas pessoas “chatas” que se colocam praticamente sobre nós, procurando falar a curta distância do nosso rosto e que, por vezes, ainda exageram essa violação do espaço pessoal, segurando-nos o braço. Quando este espaço é invadido, sem permissão, geralmente reagimos através de comportamentos não-verbais. O corpo discursa, contorce-se, procura esquivar-se da intrusão.
Aos homens que assim agem sempre me apeteceu pontapeá-los ou, pelo menos, dar-lhes um valente empurrão; claro que não o faço mas encurto rapidamente a conversa, por vezes de forma nada polida.
Embora igualmente irritado, em relação às mulheres sempre me apeteceu levar a coisa para a mordacidade e devolver-lhes a violação do meu espaço pessoal tocando-as sem pudor, fazendo deslizar a minha mão por um dos seus braços ou pernas, procurando chocar e rindo-me disso.
Claro que recolho as mais surpreendentes reacções, mas o que é curioso é que na maioria dos casos elas continuam a não perceber; não tiveram consciência de que violaram o meu “raio mínimo de existência” como o define Laura Nascimento numa resposta a uma leitora no jornal SOL de 25 de Junho de 2014, e em que remata uma possível explicação: “Não quero parecer snob, mas tenho visto que as necessidades pessoais de espaço dependem também da educação e do nível sociocultural das pessoas”.
Eu é que nunca percebi como é que há pessoas que não compreendem o conceito de proximidade ou de espaço pessoal vital, um espaço que varia de pessoa para pessoa mas que, regra geral, é de uns 40/50 cm, e que não deve ser infringido. Não se trata apenas de uma questão física mas também de uma questão psicológica.
Edward Hall estudou este assunto em 1963 e teorizou alguns aspectos interessantes sobre o “espaço pessoal” ou “distância interpessoal” (Comfortable Interpersonal Distance). E depois dele outros investigadores também se debruçaram sobre essa área abstracta que serve para regular a intimidade em situações de convívio social. Quanto mais próximo de alguém, maior a possibilidade de estímulo visual, táctil, auditivo e olfactivo, o que é uma excelente receita para deixar as pessoas desconfortáveis.
Ainda que pareça existir uma relação entre as diferentes culturas e a extensão dessa distância, é óbvio que não me refiro à prática geral em cada país ou cultura, mas sim aos exageros, aos prevaricadores inconscientes desta etiqueta social, os “subtis paquidermes”.
Sem comentários:
Enviar um comentário