medalhas de ouro

 Diário da Peste #132

Parece que somos muito bons a saltar e atirar pedregulhos. Valha-nos isso... essas aptidões para as cabriolices. Ainda por cima elas são giras.



Claro que nenhum destes magníficos atletas chega aos calcanhares do famoso Zé Figueiras, o homem verdadeiramente mais rápido do Mundo. Logo que alcatroaram a EN120, e começaram a surgir as camionetas de excursionistas trazendo minhotos, beirões ou alfacinhas em visita ao Algarve, o Zé Figueiras, natural de Aljezur - que não gostava de tais visitas perturbantes da pacatez barlaventina -, atirava pedregulhos às indolentes viaturas assim que elas se aproximavam da ponte. Porém, achando muito trabalhoso arrancar novo paralelepípedo da calçada, lançava-se em vertiginosa correria e ainda apanhava a pesada pedra antes desta atingir o autocarro; e voltava a atirá-la e a repetir o exercício até que a última curva da povoação ocultasse os olhos esbugalhados dos estupefactos forasteiros.
E se pensam que exagero atentem nas habilidades de caçador do ilustre aljezurense que, quando acompanhado da cadela (que mantinha enjaulada e mal alimentada), e temendo que a esfaimada cachorra devorasse a lebre a que acabara de fazer o tiro, partia bruscamente em louca correria, ultrapassava o canídeo e agarrava a peça de caça, ainda mesmo antes do chumbo a vitimar; o que se traduzia, por vezes, numa porção de chumbinhos alojados na mão do alucinante caçador; o que redundava numa grande chatice pois a mão temporariamente inutilizada era a que usava habitualmente para “espancar o palhaço” e, por este motivo, via-se obrigado a calçar na mão sinistra uma luva destra para que, dessa forma, o tímido palhaço não ficasse inibido na sucessão das viris sacudidelas.
Assim mo contaram, e eu acreditei porque incomensuráveis são as aptidões dos lusitanos para as artes atléticas.

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