Esta imagem exala o ambiente fatigado de um reduto masculino em decadência — uma decadência acentuada pela idade dos homens, imóveis nos seus olhares ensimesmados, como que presos numa contemplação interior, surda e resignada.
Paira a sensação de um tempo suspenso — parado no pó que se acumula nas garrafas, nas prateleiras desordenadas, na pequena boneca sentada sobre uma antiga lata de bolachas, cuja função original já foi há muito esquecida e substituída por qualquer outra utilidade obscura, doméstica, necessária à vida da tasca.
Tudo ali se apresenta estático, até a inclinação do quadro com o emblema do Sporting Clube de Portugal — que, periclitante, parece recusar-se a tombar, por mera teimosia simbólica. E os calendários de parede, com raparigas ligeiramente despidas, exibem um erotismo pueril e anacrónico, ao lado de um rádio que parece permanentemente mudo — ou talvez desligado do mundo.
Apenas os bancos, vazios e descompostos, sugerem alguma vida passada — como se alguém tivesse saído há pouco, deixando no desalinho o único vestígio de movimento. Até se adivinha o cheiro... talvez maresia, talvez vinho velho e fumo entranhado nas paredes.
Uma razão substancial para se evitarem, nas redes sociais, apreciações desta natureza — quer sobre fotografias, quer sobre textos — reside no facto de esses espaços se terem tornado antros de uma incomensurável fauna de iletrados. O texto acima não visa, de forma alguma, uma crítica à realidade representada, mas antes traduz a sensação que a imagem provoca — impressão difusa, atmosférica, emocional.
A fotografia e o respectivo comentário foram partilhados no grupo Olhão Antigo, onde se pôde observar, com alguma melancolia, a incapacidade de certos membros em distinguir entre crítica e sensação, entre observação estética e juízo moral.
Uma prova adicional de que o grunho — versão moderna do bárbaro com rede Wi-Fi — continua a confundir as palavras com ataques, as imagens com afrontas, e a sensibilidade com ameaça.
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