António Lobo Antunes, pelo fotógrafo José Francisco Vilhena |
É sempre agradável regressar às leituras de outros tempos,
recordar as palavras escritas de valor eterno, recordar aquilo que já foi
esquecido, e eu esqueço-me muito.
Reler Eugénio Lisboa dizendo «O leitor insaciável não pára para pensar: passa
de um texto a outro porque tem um medo horrível de ficar sozinho com o seu
pensamento (…) Uma leitura destas nada tem que ver com cultura, nem com
inteligência: é antes uma nevrose, uma doença, uma nuvem. A inteligência
dissolve nuvens, não se acomoda com elas e muito menos as promove. O desejo de
“ler tudo” pertence, com o devido respeito, ao pelouro da psiquiatria. Ler tudo
é um sintoma – de carência.»
Ou reler Inês Pedrosa, citando António Alçada Baptista «Eu digo do Eça que ele
escrevia tão bem que nós não damos conta de que os seus livros são maus. É
possível que a época criasse aquele azedume, aquele ressentimento contra as
mulheres, contra os portugueses, contra o ser humano. Às vezes, é tão forte o
“espírito do tempo” que ataca até as melhores cabeças».
Ou, ainda, Rita Ferro citando Monique Plaza que tranquiliza escritores
preocupados com a sua sanidade mental, dizendo «… se por um lado a escrita
aproxima temporariamente o escritor do louco, por outro a “zona de luz” donde
provém a criação contrasta em absoluto com a escuridão dos abismos em que o
“verdadeiro” louco se perde».
Reler, é ler de novo mas também é ler pela primeira vez aquilo que nos escapou
anteriormente e, sobretudo, ler com outro sentido crítico, com uma cultura
diferente resultante de uma consciência mais ampla do mundo e de nós próprios.
A releitura desta Revista LER Nº41, não foi exclusivamente motivada pelas
transitórias verdades literárias, pois, de vez em quando, também regresso à
leitura das imagens de outros fotógrafos impressas em livros e revistas, que
este número de Inverno/Primavera de 1998 (com o preço de 800$00) profusamente
ilustra com o trabalho de sete fotógrafos portugueses que retrataram escritores
contemporâneos.
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