Da Sabedoria dos Idosos

 


É inequívoco que os octogenários muito sabem, que acumulam longo conhecimento e, sendo livres da moléstia de Alzheimer, constituem excelentes repositórios de ensinamentos.

O que poucos compreendem — e cada vez menos, com o avançar da idade — é que os seus conhecimentos são datados, dizem respeito a uma época determinada, a uma geração precisa, e são pessoais, quase únicos, distintos dos demais. E por não o saberem, tomam-nos por única realidade aceitável, por verdade escorreita e definitiva. Nada mais ilusório, pois tal não corresponde à verdade.

Outras experiências, outros saberes, outras realidades ocorreram antes da sua, e são raros os homens que, tendo consciência desse facto, ousam explorar, investigar e incorporar no seu entendimento essas sabedorias sucessivas e alheias; esses são os verdadeiros sábios.

É, assim, frequente ver um ou outro octogenário (também se poderia dizer septuagenário ou nonagenário) insistir na singularidade da sua verdade perante esta ou aquela versão apresentada por outrem, sobretudo se esse outrem for mais jovem.

Efectivamente, para o homem comum, aquele que acumula saber apenas mediante o que vê, ouve ou faz, dependendo unicamente das suas próprias experiências (e ignorando quanto viram, ouviram e fizeram outros antes de si, bem como as experiências que daí advieram), essa é a única verdade. Uma verdade enganadora, alheada da realidade universal.

É por isso que os livros são preciosos: procuram colmatar essa ignorância do homem presente acerca do homem passado. Sem o ensino dos livros, e das casas do saber — que não tudo sabem, mas guardam conhecimentos valiosos —, não haveria conhecimento novo, nem avanço tecnológico, nem evolução da mente e do espírito, nem progresso da civilização.

O saber do ancião é, pois, valioso; todavia, não representa a verdade absoluta sobre coisa alguma, tampouco a verdade total sobre uma época, um acontecimento ou uma experiência, pois diferentes pessoas adquirem experiências distintas, e sintetizam saberes que não têm de ser idênticos, nem conduzem, forçosamente, aos mesmos frutos.

É essa ignorância, esse pouco saber que muitos tomam por tudo, que afecta tantos.

Sem comentários: