Como eterno aprendiz de esteta da escrita, agrada-me um
texto que cumpra com precisão a escolha das palavras. Já antes manifestei a
minha insistência em subordinar tudo à forma, evitar a repetição, as descrições
longas, a gordura da escrita; mas para isso é conveniente conhecer muitas
palavras.
O facto de as palavras se ajustarem meticulosamente às ideias, de as vestirem
como uma pele, justa e perfeita, revela a solução ideal para descrever um
determinado conteúdo. É nessa rigorosa adequação das palavras ao que se
pretende transmitir que um texto me conquista como leitor. Porém, essa precisão
não deve ser sinónimo de gongorismo, de recurso ao uso de palavras difíceis, de
termos demasiado eruditos.
Por vezes, julgamos que em lugar de uma explicação mais extensa, podemos
utilizar apenas um vocábulo, apropriado, exacto. No entanto, pode acontecer que
a personagem na boca de quem vamos colocar tal expressão não corresponda a um
perfil de alguém que usaria essa palavra para se exprimir.
O escritor brasileiro Sérgio Rodrigues diz que SER PRECISO não significa
aplicar à situação a palavra justa em abstrato, mas sim aplicar a palavra justa
para aquela situação. Então, essa PRECISÃO que tanto admiro não pode violar a
ADEQUAÇÃO verosímil às personagens e aos ambientes.
O mundo das palavras pode ser fantástico, poético, revelador, educativo,
enternecedor, hilariante, mas também pode ser enfadonho, aflitivo, duvidoso e
perigoso. Porém, é, seguramente, um mundo que nunca esgotará as formas e os
assuntos que as palavras podem ter e abordar.
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