As pronúncias sempre foram tema de risota em todas as
culturas. Se não erro, em árabe é a pronúncia iraquiana que suscita mais
hilariedade entre os vários povos falantes daquela língua, e a pronúncia
egípcia considerada a norma-padrão.
Vem isto a propósito da quantidade de forasteiros que, querendo escarnecer dos
lacobrigenses afirmam que estes identificam a sua terra como ‘Légues’.
Obviamente, estes humoristas de meia-tigela não têm falta de ouvido, mas falta
de conhecimentos linguísticos pois, na sua maioria, não sabem o que são valores
fonéticos, e tampouco fazem a mínima ideia de como os grafar em linguagem corrente.
Os lacobrigenses de linguajar mais ‘cerrado’ dizem ‘Lagues’ (Lagos), como dizem
‘torresmes’ (torresmos), ‘cavales’ (cavalos), ‘debaixe’ (debaixo), e tantas
outras palavras em que se verifica a apócope ou redução do ‘o’ final. A queda
das vogais finais, como acontece frequentemente com o ‘u’ e o ‘o’ no dialecto
algarvio é um moçarabismo, portanto uma influência da língua árabe, mais
musical.
Esta gente que afinal galhofa da sua própria ignorância, incapaz de apontar os
desvios à norma, que efectivamente existem, nas pronúncias e dialectos
regionais, nem sequer está preparada para lidar com a insensatez da supressão
de acentos e de consoantes mudas com valor diacrítico, impostas pelo acéfalo
Acordo Ortográfico que, supostamente, visaria facilitar a escrita através da
insana colagem da ortografia à volatilidade da pronúncia. Mas, reconheço que os
galhofeiros burgessos e os acordistas mentalmente corruptos, pelo menos numa
coisa estão em consonância, são ‘obstinades come burres’.
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P.S. - Se quiserem aprender alguma coisa sobre o assunto leiam: ‘O dialecto
algarvio – abordagem histórica’ Maria Alice Fernandes, Universidade do Algarve,
2006
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