Não nos lixem a RTP2


 

Paralelamente às teorias da conspiração mais tresloucadas: a Terra é oca e vive lá gente; andam a enganar-nos, a Terra é plana e não esférica; os Illuminatti dominam o Mundo; os traços feitos pelos aviões no céu são chemtrails e não contrails; etc. existem algumas teorias menos absurdas que deixam na dúvida qualquer pessoa minimamente inteligente, como é o caso da teoria que postula que os governos dos países democráticos (pelo menos de alguns) investem na imbecilização das populações, para melhor as controlarem, dificultando o acesso à informação fidedigna e ao conhecimento autêntico. E que isso é feito sobretudo com a cumplicidade dos meios de comunicação.

Ora, parece que, desejosos de confirmar esta teoria e fazendo eco das pretensões dos operadores privados (que já em 2012 haviam tentado), alguns políticos (IL p. ex.) manifestaram esta semana a vontade de desactivação da RTP2 por se tratar, dizem eles, de um canal anacrónico e que não justifica o seu custo; foi na A.R., no âmbito da audição dos membros indigitados para o Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Portugal.

Ou estes políticos são claramente uns rematados ignorantes (o que não é de estranhar considerando o perfil das últimas gerações de candidatos, eleitos e não eleitos, aos vários cargos da política) ou aquela agenda de embrutecimento das populações existe mesmo e eles estão ao seu serviço.

Vejamos, defendem que se retire do ar o único canal que apresenta peças culturais e produções de qualidade, com especial enfoque na área documental e nas séries de ficção europeias da última década, deixando o público a braços com o lixo tóxico e profundamente alienante dos canais generalistas que bolsam ininterruptamente reality show (de grunhos, com grunhos e para grunhos), e as séries sociopatas, violentas e vertiginosas, sobretudo de proveniência norte-americana, tal como as séries de humor histérico e apatetado de idêntica proveniência, a que nem as crianças deviam assistir.

Vendidos aos interesses comerciais dos “media”, estes políticos crucificam a cultura e o entretenimento sadio, tronando-se cúmplices de uma dinâmica que visa obter lucro a partir do lixo que poderosos grupos produzem ou revendem, servindo o embrutecimento dos públicos e mantendo no estado asinino aqueles que já aí se encontram.

Independentemente dos argumentos e críticas pertinentes acerca de uma programação assente na reposição de séries e numa mistura de conteúdos «...do tipo Canal Panda e Youtube...», a verdade é que a RTP2 é o último baluarte dos conteúdos de cultura e bom gosto na televisão em Portugal. Querem reduzir custos? Privatizem a RTP 1, assim como assim já é semelhante aos outros lixos privados.

O facto de termos de viver com ambos não encobre a constatação de que o lixo político é mais perigoso para a humanidade do que o lixo nuclear.

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A ligação entre eleitores e partidos, excluindo os sicários, é hoje muito frágil; vota-se mais depressa para derrubar alguém do que para eleger outrem; vota-se pela empatia que o candidato suscita e não pelas suas ideias (que são pouco divulgadas e ainda menos procuradas). E qualquer factor, de consequências privadas ou que tão-somente abalem as convicções pessoais (tantas vezes fantasiosas) é motivo para ruptura. Está justificado o meu afastamento do Iniciativa Liberal e re-confirmado que faço parte de um pequeno grupo de uma Direita orfã, que não se revê em nenhum dos partidos que partilham este país.

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