Ai! A dor vai até ao céu… da boca.

 

Inicialmente, na fraca luz do armazém de frutos secos, numa pequena mesinha ao lado de toneladas de alfarroba ensacada, pareceu-me um frasco de mel, escuro e escorrido pelas paredes do recipiente. Mas tal guloseima de cor assim tão escura despertou-me a curiosidade e foi ao pegar-lhe, elevando-o para achar melhor luminosidade, que descobri do que se tratava. Então, o meu rosto iluminou-se como o Farol do Cabo de S. Vicente em pesada noite de breu.

Veneno para quem, como eu, tem propensão para produzir cálculos renais de oxalato de cálcio, o conteúdo do frasco é-me penosamente interdito; mas o que é a vida sem o risco das alturas para quem sofre de vertigens?

Para os grandes apreciadores dos melhores acepipes marinhos, os filetes de biqueirão em azeite (direitos ou enrolados com alcaparras), cozidos na poderosa salmoura e depois conservados em sal enxuto, bem apertados no interior de barricas de madeira de onde vão exsudando os líquidos em excesso, ao longo de vários meses, e finalmente alimados (despelados suavemente), constituem um hiperbólico delicioso momento para os adestrados palatos dos indígenas da orla mediterrânica e, até, alguns das margens atlânticas.

E não lhes chamem anchovas, porque em Portugal a Direcção Geral da Agricultura e Pescas, após reunião de 24 de Julho de 2009, consolidou no Anexo 1 as denominações comerciais referidas na Portaria 587/2006 de 22 de Junho. Assim, denomina-se por Anchova ou Enchova (Pomatomus saltatrix) o predador de cor azul/prateado que atinge os 20kg, enquanto o pequeno peixe da família dos engraulis (que se estiva e do qual se fazem os filetes, que encontramos à venda em lata), se chama Biqueirão. 

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