Diz a sabedoria popular* que com o avançar da idade o homem vai ficando mais sábio. Ora, se em jovem, e até na idade adulta, o individuo era um parvalhão como é que, com a idade, ganha sabedoria? Não será exactamente o contrário? Quanto mais velho, maior é a degeneração orgânica e mais frequente é a impaciência, e por isso o individuo fica mais palerma?!
Estou convencido que esta asserção corresponde à realidade, mas como aprendi isto agora, aos 63 anos de idade, eis o paradoxo: Esta tomada de consciência constata que estou mais sábio, ou comprova que estou mais tolo?!A verdade é que tenho menos paciência para certas coisas (a semântica convoca outro paradoxo pois refiro-me a coisas que considero erradas), menos tolerante - por via do estreitamento das diferenças entre tolerância e permissividade - e mais rude, incisivo e pragmático, dispensando rodriguinhos e delicadezas.
Havia de ser mais diplomático, mais subtil, mais ecuménico e mais integrador, já que somos todos irmãos (?), mas eu quero é que os irmãos se transfundam ou reciclem em existências menos barulhentas e pastosas e mais reflexivas e assertivas e que verifiquem, com maior frequência, se o cérebro está a trabalhar antes de abrirem a boca para falar.
Uma nota para isentar as mulheres deste estigma ao esclarecer que quando me refiro ao homem não estou a recorrer ao uso convencionado do masculino universal (que inclui os dois sexos no termo ‘homem’). Portanto, desta vez, elas ficam a salvo da degeneração geriátrica que me arrasta para a existência paradoxal aqui denunciada (coitadas, já têm de se haver com o horror do envelhecimento feminino: «ao contrário dos homens, que ganham charme com a idade» dizem algumas; mas logo outras, porventura mais perspicazes, contestam: «com a idade eles ficam é chatos como a merda»).
Paguei os dois euros, o homem fechou a caixa e, num golpe de rins, ajustou-a às costas, equilibrada pela bandoleira, e afastou-se a gritar aos circundantes: - OLHÓ PARADOXO, DE BAUNILHA Ó CHOCOLATE!
E eu, sem dentes que possa considerar naturalmente meus, fiquei-me, careca, sorvendo aquele paradoxo que ia sumindo à mesma cadência da velhice que me ia reduzindo a sabedoria.
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*burrice comum a toda a sabedoria empírica que contraria a Razão.
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