Submerso Imaginário

 


A bordo deste submarino vivo num exercício constante de resistência física e psicológica. O espaço exíguo transforma cada movimento numa coreografia apertada, onde cotovelos, ombros e costas chocam contra paredes de metal e contra os corpos dos camaradas. O ruído grave e incessante do motor mistura-se com o silvo de válvulas e o estalar de tubagens, criando uma sinfonia metálica que não cessa nem para o sono. O ar é denso, carregado com o cheiro quente da maquinaria, o suor entranhado nas roupas, o óleo queimado, a humidade salgada e outros odores indiscritíveis que brotam de recantos onde o ar escassamente circula.

A temperatura, sufocante, cola as camisas à pele. A comida, enlatada, repete-se até à náusea: conservas de sardinha ou de cavala flutuando em azeite, carnes prensadas, arroz que parece massa de preencher buracos, ovos emborrachados e bolachas duras. O sabor torna-se tão monótono quanto os dias de patrulha, quebrados apenas pela tensão permanente de que, a qualquer momento, o casco pode implodir sob a explosão de uma carga de profundidade ou o choque com uma mina à deriva.

Nestas condições, os pensamentos vagueiam entre a nostalgia da terra firme e a obsessão pela sobrevivência. Cada estalido metálico soa a prenúncio de desastre; cada silêncio súbito, um aviso mais terrível que o ruído. E, no entanto, ao posar para a fotografia, consigo sorrir, não de alegria, mas por desafio… ou será nervosismo?! Talvez não passe de um instante roubado ao medo, uma pequena vitória contra aquela prisão submersa e a morte que ronda invisível nas águas. Ou talvez seja apenas um sorriso em que exclamo: ainda estou aqui e um dia irei candidatar-me a Presidente da República?!


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