Sempre estranhei não haver aulas de condução em estrada, tipo percorrer 40 ou 50 km da Via do Infante, no decurso da Instrução de Condução Automóvel. Não é esquisito receber a carta de condução sem nunca ter ido para a estrada, literalmente? E este é apenas um dos aspectos defeituosos, uma das muitas falhas dessa “instrução”.
Sobre as novas normas para o ensino da condução, não acredito que venham contribuir para resolver o problema da sinistralidade automóvel. A exigência de percorrer mil quilómetros durante o curso não resolve nada. Podem andar à volta do quarteirão até perfazer essa distância. Durante as aulas, e até ao exame, os animais portam-se bem. Depois de obtida a autorização e adquirido o bólide, tudo muda. Então, cada carta de condução é um convite a integrar as fileiras dos guerreiros do asfalto. Mais um potencial “soldado” para combater batalhas de aço e plástico, potência e velocidade, de onde sobeja, invariavelmente, muito sangue e carniça desfeita.
E assim continua a formação desses obnóxios que ceifam ou estragam tantas vidas – as próprias e as de terceiros –, nessas batalhas que decorrem em todas as faixas alcatroadas deste país.
Hoje, com 48 anos, conduzo muito melhor do que aos 24, com mais cuidado e consciência, resultado da experiência ao volante e, sobretudo, influenciado pelas muitas tragédias testemunhadas. Mas não resultado da formação nem de aprendizagem correcta, que não existe neste país. Obviamente, as campanhas de prevenção rodoviária e as dinâmicas das autoridades – assentes, estas, em estratégias de coacção, e sensibilizações estéreis para enganar idiotas – tampouco obviam ou resolvem o quer que seja. Actualmente, a actuação das autoridades de trânsito incide, especialmente, na caça à multa, respondendo ao objectivo maior da sua relação contratual enquanto funcionários públicos: alcançar produtividade convertida em euros.
E devemos admirar-nos? Claro que não, pois trata-se apenas de mais uma manifestação do absurdo que reina nesta sociedade paradoxal, gerida pelos indivíduos mais inaptos e néscios, em quem os mais capazes e inteligentes relegaram os mais amplos poderes de decidir e executar.
Solução: esperar que todos os conscientes morram, eventualmente nas batalhas do alcatrão. Então, estes problemas desaparecem.