«A fotografia que rendeu o Prêmio Pulitzer a Kevin Carter foi tirada durante a guerra no Sudão - ela é proveniente de Ayod, no sul do Sudão, para onde Kevin Carter e João Silva foram para cobrir o genocídio de tribos cristãs pelo governo muçulmano sudanês.
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A fotografia é constituída por uma ave de rapina - um abutre - e uma menina subnutrida. A ave pousa pacientemente a poucos metros da menina - incapaz de percorrer a extensão que falta para um campo de alimentação de refugiados - esperando o desfalecimento da vítima potencial para se alimentar de seus restos mortais. A menina senta em flexão sobre os joelhos, a cabeça baixa pela tontura do sol e da fome e da sede.
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'Eu estava fotografando uma criança, mudei de ângulo, e de repente vejo um urubu atrás dela. Continuei fotografando'. Onde?, perguntou João, alarmado. 'Ali', apontou Kevin. João já tinha fotografado a mesma menina, mas sem o urubu. 'Acabo de enxotar o abutre', sentenciou Kevin. Ambos retornaram à África do Sul em silêncio. A foto cruzou o Atlântico e foi abocanhada pelo jornal mais prestigioso do mundo.
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A fotografia é a representação da desumanização - pelo processo de construção da representação da realidade pelo fotógrafo e pela desumanidade do próprio fotógrafo atrás da máquina. "Às vezes nos sentíamos como abutres" - conta Greg Marinovich como que comparando o grupo com o abutre fotografado por Kevin Carter - "pisamos em cadáveres, metafórica e literalmente, e fizemos disso nosso ganha-pão". O olhar do fotógrafo se confunde com o da ave de rapina. »
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