Há bons músicos neste país, e, mais acima, este senhor

Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e quanto mais eu penso mais eu cismo

como é que gente tão socialista
desiste de fazer o socialismo

é querer fazer arroz de cabidela
sem frango nem arroz nem a panela


Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e quanto mais eu penso mais eu vejo
que esta grande obra de reconstrução
parece mas é uma acção de despejo
é como para instalar uma janela
atirar primeiro os vidros para a viela

Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e penso e vejo de todas as cores
já libertaram pides e bombistas
deve ser para lá por trabalhadores
é como lançar cobras na cidade
e pôr dentro da jaula a liberdade

Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e vejo e de ver tiro conselho
aquilo que é mesmo reforma agrária
é para alguns o demónio vermelho
esses querem é ver anjos cor-de-rosa
entre Castro Verde e Vila Viçosa

Eu amanhã posso não estar aqui
mas também, para o que eu aqui repeti...
é que eu não sou o único que acho
que a gente o que tem é que estar unida
unida como as uvas estão no cacho
unida como as uvas estão no cacho

2 comentários:

vanus disse...

Um excelente músico, melhor letrista ainda, mas já passou uma fase de vedetismo tão parva no início de 90, que nunca mais o vi bem a partir daí (até lhe cheguei a mandar uma maçã para o palco :p), o que me irrita ainda mais porque já não sou capaz de gostar das músicas dele como gostava.

éf disse...

pois eu continuo a gostar. mas reconheço que o que tem de mais importante, e intemporal, é a qualidade. aprendo guitarra, ou melhor, belisco as cordas às segundas à noite, mas já deu para perceber que, bem ou mal, poderia vir a tocar Zeca Afonso, The House Of The Rising Sun e milhentas outras coisas mas, jamais o que toca e canta o Sérgio. Não é só o estilo, a complexidade ou a criatividade do compositor, é a própria natureza da construção musical (calculo que só alguns brasileiros o poderão fazer).
Mas percebo o que queres dizer. Acho é que esse fenómeno não é exclusivo da música dele, mas sim das ideias de toda uma época que perdeu a batalha contra o "capitalismo selvagem".

É melhor resssalvar que sou um gajo da Direita mas isso não me tolda a consciência. Até devo ser, senão o único, um dos poucos deste país capaz de defender, com convicção e alguma argumentação válida (partindo do pressuposto que tal coisa existe), a posse de um cartão partidário cor de laranja e de um vermelho, bem vermelho, de sindicalizado.
Haja Saúde! Que o resto vem...ou vai.

;)