as reformas

Sujeitos a um sistema de avaliação criado para resolver um problema de despesa pública, e não para os avaliar, os funcionários públicos são, mais uma vez, os bombos da festa. E no privado, muitos trabalhadores aplaudem satisfeitos por, finalmente, esses privilegiados da função pública verem também, agora, o seu futuro mais sombrio. Esquecem-se, estes, que, se até hoje os patrões não lhes cagaram em cima, isso deve-se ao facto de os níveis de remuneração e “regalias” da função pública se ter estabelecido como termo comparativo. A partir de agora, valendo um emprego o que vale na função pública, não esperem os “da privada” quaisquer melhorias, antes pelo contrário. Dissolve-se o termo de comparação e, com ele, as últimas peias impeditivas das vampirescas orgias do patronato.
Muito mais haveria a dizer sobre as (i)lógicas dos sistemas de avaliação impostos pelo Governo, de que o caso dos professores é mero exemplo, mas não já me parece produtivo citar, recitar, brandir e esgrimir razões, fazendo coro com a vasta miríade de bloguistas que emprestam o seu tempo e a sua pena a tais objectivos - sendo certo, ainda, que muitos o fazem melhor do que eu, e com mais propriedade. Já nem vinga a convicção de que quantas mais vozes a bradar, mais claro e longe se ouve o brado. Antes pelo contrário, desconfio. Coisas da inflação discursiva? Por isso, silencio a decepção, o descrédito e a desesperança no país, nestes políticos, na democracia, na república, no regime. E mais palavras para quê, se a poia não deixa de ser merda, mesmo sinalizada na axadrezada e puída calçada portuguesa em que diariamente arrastamos os pés?!

5 comentários:

vieira calado disse...

É.
Os privados sempre tiveram inveja dos funcionários do Estado.
Mas qualquer caga-lhes o cão, no caminho...

TheOldMan disse...

Francisco, em tempos fui funcionário público. E vim-me embora por causa de o sistema não ter qualquer tipo de justiça no modo como funciona; premiando a delacção e o compadrio (e cá fora ganho quatro vezes mais).

A maioria dos funcionários públicos sempre se manteve à margem da vida laboral do país, talvez por se julgar ao abrigo de medidas mais radicais; enquanto todas as regalias eram retiradas aos da privada, e os contratos reduzidos a declarações de quase escravatura.

Até compreendo isso. Mas agora têm que compreender que chega a vez a todos.

Hà um poema muito intweressante que retrata isso. Acho que é de Berthold Brecht.

Abraço

;-)

éf disse...

Caríssimo Mestre, compreendemos perfeitamente: chega a vez de sermos todos lixados por igual. Mas, então, não devia ser objectivo dos que estão no privado atingirem aquilo que consideram um nível de retribuição/regalias pelo seu trabalho, idêntico aos da função pública? Não percebo essa lógica de “equilibrar”, que retira aos que, supostamente, têm mais, colocando-os a par dos que, supostamente, têm menos. No meu vocabulário “equilibrar” pressupõe retirar de um nível superior e atribuir a um nível inferior, de modo a que o nivelamento se verifique numa posição intermédia. Ora, não é isso que temos verificado e que iremos verificar cada vez com maior acutilância. Por outro lado, é inequívoco que um poder de compra e um nível de vida médio por parte dos funcionários públicos tem permitido uma redistribuição/devolução ao sector privado. É evidente que tal aspecto não deve ser a base da economia de um país, mas afigura-se-me um mal menor, comparado com a alternativa que consiste em reduzir poder de compra e nível de vida de todo o universo dos trabalhadores em proveito, já sabemos de quem: dos bancos, das cadeias de hipermercados... enfim, a vampiragem do costume. Será que os trabalhadores do privado vão ficar melhor, com estas reformas que incidem sobre a função pública?

TheOldMan disse...

Qual equilibrar, Francisco de Blog?...

Eu apenas quero dizer que os privados foram lixados primeiro, e que agora que pouco mais há para lhes roubar, o governo vai fazê-lo aos seus próprios funcionários.

E como deves ter reparado, se não houve chinfrim na 1ª parte da "festa" (que durou dos anos oitenta até à actualidade), não é agora que vai haver.

Eu contava-te umas coisitas da Câmara de Almada, mas já deves ter por esses lados "material literário" que chegue.

Abraço

;-)

éf disse...

tenho algum material sim, mas é do tipo fantástico-dramático.

Acho que será melhor mudar as minhas preferências "literárias" e dar uso ao material
;)