Estamos Falidos! Estamos Falidos! Gritou desesperado o 1º Ministro, amparando a cabeça nas mãos e lançando-se precipitadamente para o extremo oposto da sala, acotovelando as cabeças dos restantes ministros, ainda sentados em torno da mesa governamental.
- Porque é que não me disseram nada? - Porque é que sou sempre o último a saber?
Santos Silva, já em pé, faz-lhe gestos para se acalmar, enquanto Manuel Pinho se raspa sub-repticiamente, valendo-se da sua conveniente estatura. Na mão, no saco do portátil, os calções e a toalha de banho esclareceriam o atónito contínuo que ainda o ouve gritar para o choffeur, enquanto desaparece na curva do corredor, “- Para o Allgarve, rápido!”.
Quem é que tem dinheiro? Quem é que tem dinheiro? Repete incessantemente Teixeira dos Santos, voltando-se ora para a esquerda ora para a outra esquerda, desorientado. A resposta deu-a Luís Amado: - Os chineses! Os chineses é que têm a massa!
Jaime Silva piscou o olho a Silva Pereira e rematou em voz baixa, apenas para o ministro da presidência ouvir: - Já sei! Alugamos isto aos chineses. Um país-loja. Uma enorme loja para fornecer a Europa. Até podíamos colocar uma lanterna gigante pendurada no Cristo-Rei…
Com a cara entre as mãos, Sócrates, sentado no chão, ao canto da sala, chora compulsivamente marcando, com a cabeça na parede, um compasso ternário (muito mal marcado, diga-se em abono da verdade).
Da rua, da multidão gigantesca, sobe um clamor de contrabaixo de onde escapam frases de ordem mais estridentes, depressa engolidas no bramido profundo da turba que afoga esses gritos mais agudos que ciclicamente repetem: - À MORTE! - À MORTE! Misturadas com incontáveis e inspiradas invectivas dirigidas aos governantes.
Nuno Teixeira, lívido, de olhar vidrado e fixo num ponto da parede oposta ao lugar que ocupa, não proferira uma palavra nem ousara um único gesto, desde o início da reunião. Enquanto Rui Pereira se desfaz em contactos telefónicos com os comandos policiais - de há muito expulsos das ruas pelo milhão de pessoas que marcham pelas ruas da capital -, Alberto Costa e Mário Lino entreolham-se apreensivos. Os outros não estão lá. Uns porque ficaram retidos nos afazeres oficiais onde foram surpreendidos pela revolta popular, outros porque apanhados pela turba e, praticamente, linchados na via pública. A coitada da Lurdes Rodrigues safou-se apenas com uns bofetões criteriosamente aplicados por uma jovem licenciada em psicologia que a reconheceu à saída do restaurante onde almoçara com dirigentes sindicais – que também levaram uns tabefes e umas biqueiradas no recto, especialmente os que não conseguiram esquivar-se à bota pontiaguda de um chulo de Xabregas com contas por ajustar com polícias, políticos ou, na ausência destes, dirigentes sindicais que, no seu entender, servem muito bem para o “desopilar do fígado”.
Voam vidros em estilhaços e alguns polícias já praticamente à paisana, e au naturel, aprendem também os princípios do voo curto planado, rasante às cabeças atarantadas da extensa mole humana que ocupa todo o espaço visível. Os edifícios, transformados em ilhas, porque rodeados por um imenso oceano de gente, coisa como nunca se vira antes numa cidade, exibem os seus habitantes, debruçados nas varandas ou espreitando por cada buraco de portada ou janela. Lisboa revolta-se, Lisboa assiste, Lisboa existe.
Em desespero, na eminência do assalto final, o ministro telefonista tecla o número da embaixada chinesa em Lisboa e, na pausa da chamada, ausculta os seus pares: - Trespasse ou aluguer?
- Porque é que não me disseram nada? - Porque é que sou sempre o último a saber?
Santos Silva, já em pé, faz-lhe gestos para se acalmar, enquanto Manuel Pinho se raspa sub-repticiamente, valendo-se da sua conveniente estatura. Na mão, no saco do portátil, os calções e a toalha de banho esclareceriam o atónito contínuo que ainda o ouve gritar para o choffeur, enquanto desaparece na curva do corredor, “- Para o Allgarve, rápido!”.
Quem é que tem dinheiro? Quem é que tem dinheiro? Repete incessantemente Teixeira dos Santos, voltando-se ora para a esquerda ora para a outra esquerda, desorientado. A resposta deu-a Luís Amado: - Os chineses! Os chineses é que têm a massa!
Jaime Silva piscou o olho a Silva Pereira e rematou em voz baixa, apenas para o ministro da presidência ouvir: - Já sei! Alugamos isto aos chineses. Um país-loja. Uma enorme loja para fornecer a Europa. Até podíamos colocar uma lanterna gigante pendurada no Cristo-Rei…
Com a cara entre as mãos, Sócrates, sentado no chão, ao canto da sala, chora compulsivamente marcando, com a cabeça na parede, um compasso ternário (muito mal marcado, diga-se em abono da verdade).
Da rua, da multidão gigantesca, sobe um clamor de contrabaixo de onde escapam frases de ordem mais estridentes, depressa engolidas no bramido profundo da turba que afoga esses gritos mais agudos que ciclicamente repetem: - À MORTE! - À MORTE! Misturadas com incontáveis e inspiradas invectivas dirigidas aos governantes.
Nuno Teixeira, lívido, de olhar vidrado e fixo num ponto da parede oposta ao lugar que ocupa, não proferira uma palavra nem ousara um único gesto, desde o início da reunião. Enquanto Rui Pereira se desfaz em contactos telefónicos com os comandos policiais - de há muito expulsos das ruas pelo milhão de pessoas que marcham pelas ruas da capital -, Alberto Costa e Mário Lino entreolham-se apreensivos. Os outros não estão lá. Uns porque ficaram retidos nos afazeres oficiais onde foram surpreendidos pela revolta popular, outros porque apanhados pela turba e, praticamente, linchados na via pública. A coitada da Lurdes Rodrigues safou-se apenas com uns bofetões criteriosamente aplicados por uma jovem licenciada em psicologia que a reconheceu à saída do restaurante onde almoçara com dirigentes sindicais – que também levaram uns tabefes e umas biqueiradas no recto, especialmente os que não conseguiram esquivar-se à bota pontiaguda de um chulo de Xabregas com contas por ajustar com polícias, políticos ou, na ausência destes, dirigentes sindicais que, no seu entender, servem muito bem para o “desopilar do fígado”.
Voam vidros em estilhaços e alguns polícias já praticamente à paisana, e au naturel, aprendem também os princípios do voo curto planado, rasante às cabeças atarantadas da extensa mole humana que ocupa todo o espaço visível. Os edifícios, transformados em ilhas, porque rodeados por um imenso oceano de gente, coisa como nunca se vira antes numa cidade, exibem os seus habitantes, debruçados nas varandas ou espreitando por cada buraco de portada ou janela. Lisboa revolta-se, Lisboa assiste, Lisboa existe.
Em desespero, na eminência do assalto final, o ministro telefonista tecla o número da embaixada chinesa em Lisboa e, na pausa da chamada, ausculta os seus pares: - Trespasse ou aluguer?
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5 comentários:
Viva
não deixa de ser uma opção, a verdade é que não sei onde conseguirão ir buscar mais dinheiro, o povo anda de rastos.
Cumps.
Excelente, amigo! E o cabo pereira em muito bom plano, como não podia deixar de ser...
hehehe...quem é o cabo pereira, Eira-Velha?
"Enquanto %&$ =%$#"$ se desfaz em contactos telefónicos com os comandos policiais"
Sim... com todo o respeito para com os autênticos Cabos...
ahhh...pois claro, o cabo-de-guerra. Um dos adjuntos do cabo-dos-trabalhos. Não estava a ligar o nome.
;D
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