o horror económico

«[...] Sobretudo, atravessámos uma revolução sem disso nos apercebermos. Uma revolução radical, muda, sem teorias declaradas, sem ideologias confessadas; impôs-se nos factos silenciosamente estabelecidos, sem nenhuma declaração, sem comentários, sem o mínimo sinal de aviso. Factos instalados em silêncio na História e nos nossos cenários. A força desse movimento é justamente ter surgido já consumado e depois de ter sabido prevenir e paralisar antecipadamente qualquer reacção contrária.
Deste modo, a canga dos mercados conseguiu envolver-nos como uma segunda pele, considerada mais adequada que a do nosso próprio corpo.
Assim, já não deploramos, por exemplo, o subpagamento dessa mão-de-obra sobreexplorada em países de miséria, colonizados, entre outras coisas, pela dívida externa; deploramos o subemprego que isso provoca nas nossas regiões e quase invejamos esses desgraçados, na realidade reconduzidos, confinados em condições sociais escandalosas – que nós nem desconhecemos, mas a nossa aquiescência não tem limites!
(…)
E depois, esse dinheiro que escasseia afinal existe! Repartido de uma forma muito peculiar, mas existe. Não insistiremos, seria “pouco correcto”. Trata-se apenas de um simples reparo – de passagem, e a correr...
Há que respeitar acima de tudo o princípio essencial: não perturbar a opinião pública. Não perturbar o seu silêncio. Esse silêncio que ninguém percebe como foi obtido. [...]»

Viviane Forrester

[in O Horror Económico: Lisboa, trad. Ana Barradas, Terramar, 1997]
Selecção de Paulo da Costa Domingos

Picado de Frenesi Livros
Aproveito para referenciar este blogue como um dos poucos que vale a pena ler, quer pela sua qualidade em matéria de crítica literária quer, sobretudo, pela lucidez dos seus autores. Coisa rara na blogosfera, ou demasiado diluída no intenso ruído da Internet.

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