2010 vai ser ano de comemorações e, talvez, balanço de um século de regime republicano. Mas o republicanismo não começou em Portugal com a implantação da República. Numa sintese repartida darei conta dos antecedentes dessa aventura que dispensou monarcas e nobres, tomada pelo impacto de um assassinato, ainda hoje não resolvido no plano político e emocional dos portugueses.
Os antecedentes da República. 1
As Conferências do Casino que ocorrem em 1871 são resultado da efervescência mental produzida pela Questão Coimbrã de 1865-1866. Aí, uma nova geração de estudantes, poetas, escritores, manifesta a necessidade de se criar uma literatura capaz de tratar os temas mais importantes da actualidade, por oposição a outros intelectuais que pugnam pela manutenção do statu, apenas introduzindo inovações estéticas superficiais. Com a Questão Coimbrã entram em conflito directo o novo espírito cientifico europeu e o velho sentimentalismo rústico do Ultra-Romantismo. O novo lirismo que surge, social, humanitário e crítico, personificado por Antero de Quental, Teófilo Braga e outros, não se insurge apenas contra a tirania do gosto literário vigente, exercida por Augusto Castilho, mas também contra todos os conceitos políticos, históricos e filosóficos que ele e os seus seguidores simbolizam.
As Conferências do Casino que ocorrem em 1871 são resultado da efervescência mental produzida pela Questão Coimbrã de 1865-1866. Aí, uma nova geração de estudantes, poetas, escritores, manifesta a necessidade de se criar uma literatura capaz de tratar os temas mais importantes da actualidade, por oposição a outros intelectuais que pugnam pela manutenção do statu, apenas introduzindo inovações estéticas superficiais. Com a Questão Coimbrã entram em conflito directo o novo espírito cientifico europeu e o velho sentimentalismo rústico do Ultra-Romantismo. O novo lirismo que surge, social, humanitário e crítico, personificado por Antero de Quental, Teófilo Braga e outros, não se insurge apenas contra a tirania do gosto literário vigente, exercida por Augusto Castilho, mas também contra todos os conceitos políticos, históricos e filosóficos que ele e os seus seguidores simbolizam.
Esta época de empolgantes aventuras de descoberta do planeta, adequada à exaltação da grandeza do império luso, que mobiliza a ciência e a incerteza do desconhecido num fascínio que alimenta o imaginário de todas as classes e a emoldura num romantismo caduco, sublima as grandes explorações africanas que projectam nomes como Serpa Pinto, Roberto Ivens, Hermenegildo Capelo, os novos heróis da lusitanidade.
Embora o reinado de D. Luís se marque pelo progresso material, pela paz social e pelos sentimentos de convivência e, politicamente, pelo respeito pelas liberdades públicas, é essa geração notável de intelectuais (Eça, Antero, e outros) que vai fecundar o húmus donde brotará a consciência do liberalismo.
A partir de 1876 o Partido Progressista, que aspira articular o Estado segundo a teoria liberal, propõe a reforma da Carta, a descentralização administrativa, a ampliação do sufrágio eleitoral, e a reorganização do poder judicial e das finanças públicas.
Acusado de favorecer os regeneradores de Fontes Pereira de Melo, cujo ministério cairá em 1879, D. Luís chama os progressistas a formar governo.
Já em 1878 tomara lugar na Câmara o primeiro deputado republicano, Rodrigues de Freitas, eleito pelo Porto. Evidenciando a sólida evolução dos últimos anos, o Partido Republicano era, em 1880, uma realidade e uma força implantada de Norte a Sul do País.
O caminho está aberto rumo ao republicanismo.
5 comentários:
Gostaria que alguém referisse as grandes vantagens que a República (como governação) trouxe ao nosso país. O que mudou depois disso? O nome do regime? O que não mudou? O caos? E a gloriosa democracia? Em que nos beneficiou? Os homens continuam corruptos. Os pobres continuam pobres. Os ricos cada vez mais ricos. Ladrões são a dar com um pau, em todo o lado (não estou a falar dos ladrões de rua). E o nosso país, que é um pequeno grande país, e não tem culpa nenhuma pela má governação, é que paga as favas. Não está certo. Eu não tenho nada que comemorar. Aguardo que as mentalidades tacanhas mudem, para que a governação possa mudar também.
Isabel, eu também gostaria que alguém referisse essas grandes vantagens, pois que não as encontro, nem na história nem no quotidiano.
Interrogo-me, Francisco: será que alguma vez essas vantagens existiram?
Isabel, os factores psicossomáticos (clima, alimentação) do nosso povo, aliados à extrema periferia geográfica – onde os influxos chegam tarde e esbatidos; longe do caldeirão das culturas do centro europeu e desses povos em tumulto permanente; e os religiosos, impostos pela aberrante e desumana matriz católica com a sua imbecil tónica assente na Verdade em detrimento da Justiça (terrena) – outorgaram-nos uma cultura singular e fizeram de nós uma mole de gente indolente, tolerante e demasiado permissiva. Disso se aproveitam, e aproveitaram sempre, os nossos governantes. Talvez os monarcas um pouco menos do que os oportunistas* da república, por pudor e porque os tempos eram outros mas, não tenhamos dúvidas, sempre se aproveitaram do Zé Parvinho.
Quanto às vantagens, que existiram, entendo-as como resultantes da mudança, do facto de mudar, em si, e não da natureza do regime. É que, sendo beneficiários de um regicídio e arautos de um mundo novo, tinham forçosamente que promover mudanças, e elas ocorreram em vários campos, embora muito lentamente e atenuando-se ao longo dos tempos, até que o novo regime ficou igual ou pior ao que veio substituir.
*e como foram oportunistas, veja-se que até o acto que depôs a monarquia e lhes deu poleiro nem sequer foi de sua autoria, embora muitos dos que estiveram na forja do republicanismo tenham atiçado liberais e anarquistas contra o monarca – veja-se a questão dos “adeantamentos” à casa Real. É ver hoje quanto nos custa a Presidência da República comparando com a casa Real Espanhola – pelo menos um terço mais cara, o que é incrível dada a diferença económica e social entre os dois países.
Então do que estamos à espera? Abaixo a República! Abaixo a Democracia podre! Apesar de todos os pesares, meu caro Francisco, a Monarquia teve mais vantagens do que desvantagens, comparada com as desvantagens do presente, onde o que é, não é, e o que não é, é. Ou seja, um caos.
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