O silêncio tornou-se um vazio insuportável ao homem. Já não é bom, nem sequer aceitável, posto que é entendido como ausência total, ausência de tudo, ausência de qualquer coisa – e a coisa só o pode ser porque produz ruído. Ruído, sim. O substituto dos sons, nas grandes metrópoles hodiernas. Seria interessante se procurássemos apenas os sons mas, hoje, o que mais procuramos é o ruído.
O silêncio, que foi o pano de fundo dos sons é, hoje, a presa derradeira do ruído. Os citadinos acordam com o ruído do trânsito e vivem bombardeados por milhentos outros sem os quais já não sabem viver. Num passeio ocasional ao mundo rural, de onde saíram há gerações, tornam-se nervosos porque os sons campestres – dos animais e dos elementos naturais - são produzidos contra um fundo de silêncio que se revela nas pausas desses sons. O tal silêncio ameaçador. Nesse mundo rural há também menos conversação porque, para interromper o silêncio, é necessário ter alguma coisa válida para dizer. Acto estranho no universo citadino, onde tanta gente fala sem nada dizer.
No campo deixam-se espaços para cada um falar e ser escutado. Na cidade, a vida vertiginosa e o imenso mar de gente aflige cada ser e impele-o para o ruído gritante, num gesto neurótico que procura evidenciar e proclamar a existência singular no meio dessa multidão que oprime, confunde e massifica.
Na cidade, perdeu-se a capacidade de ouvir. Desistimos, há muito, de escutar as histórias dos outros, nessa ânsia de narrar a nossa própria. E muitas vezes ligamos a televisão para termos a certeza de que existimos como se, não ouvindo esse ruído, não pudéssemos confirmar que existimos.
O silêncio é hoje sinal de indiferença e mesmo de intolerância. Quando não se fala não é porque se quer estar em silêncio mas porque se teme o que se possa vir a dizer ou ouvir, porque, normalmente, evitamos obcecadamente o silêncio como se este fosse a negação da vida. Ora, escutar o silêncio também pode ser ouvir a própria existência, sempre presente à nossa volta, mas que a cacofonia fútil do quotidiano não deixa perceber.
Há coisas que se apreciam melhor em silêncio e há outras perante as quais não devemos ficar calados. Há silêncios que devem ser criticados e silêncios que merecem ser escutados.
(reflexões em torno da foto de um búzio)
No campo deixam-se espaços para cada um falar e ser escutado. Na cidade, a vida vertiginosa e o imenso mar de gente aflige cada ser e impele-o para o ruído gritante, num gesto neurótico que procura evidenciar e proclamar a existência singular no meio dessa multidão que oprime, confunde e massifica.
Na cidade, perdeu-se a capacidade de ouvir. Desistimos, há muito, de escutar as histórias dos outros, nessa ânsia de narrar a nossa própria. E muitas vezes ligamos a televisão para termos a certeza de que existimos como se, não ouvindo esse ruído, não pudéssemos confirmar que existimos.
O silêncio é hoje sinal de indiferença e mesmo de intolerância. Quando não se fala não é porque se quer estar em silêncio mas porque se teme o que se possa vir a dizer ou ouvir, porque, normalmente, evitamos obcecadamente o silêncio como se este fosse a negação da vida. Ora, escutar o silêncio também pode ser ouvir a própria existência, sempre presente à nossa volta, mas que a cacofonia fútil do quotidiano não deixa perceber.
Há coisas que se apreciam melhor em silêncio e há outras perante as quais não devemos ficar calados. Há silêncios que devem ser criticados e silêncios que merecem ser escutados.
(reflexões em torno da foto de um búzio)
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