Regresso ao fundo

A Espeleologia não é essa patetice apregoada pelas empresas e clubes de actividades radicais que colocam a denominação junto ao rappel, rafting, montanhismo, canoagem, queda livre, base jump e outras imbecilidades que procuram estimular a adrenalina de mentecaptos. Isso é Escalada em Grutas, não Espeleologia. Posto que a Espeleologia não é nada disso, vamos ver o que é.

A Espeleologia é uma actividade que estuda as grutas calcárias (karst) recorrendo a disciplinas científicas como Geologia, Hidrologia, Arqueologia, Biologia e Climatologia, entre várias outras. A espeleologia leva-nos à descoberta dos segredos guardados nas entranhas da Terra. Nesse mundo apaixonante, escuro e húmido, encontram-se formações líticas surpreendentes (estalactites, estalagmites, bandeiras, cascatas, gours, pérolas de caverna, excêntricos, etc.) e animais invulgares, com destaque para inúmeras espécies de insectos ainda mal estudados, e o popular morcego, esse mamífero singular. Também é frequente existir testemunhos da presença humana, simples vestígios ou autênticos depósitos de culturas remotas ali enterradas há milhares de anos.

O estudo de todas estas facetas ultrapassa o simples prazer de conhecer, revestindo-se por vezes de vital importância a nível ambiental – como a determinação da orientação e destino de um curso de água subterrâneo, e os condicionalismos naturais ou antrópicos a que está sujeito.

Em 1977 um grupo de jovens estudantes, espicaçados pelo CIES de Coimbra, formou em Lagos o GIAE – Grupo de Investigação Arqueológica e Espeleológica que, poucos anos depois, consolidada a sua actividade exclusivamente em torno da espeleologia mudou a denominação para CES – Centro de Estudos Subterrâneos de Lagos.

A esses juntaram-se outros (eu entrei em Outubro de 1978), que foram desenvolvendo actividades durante cerca de uma década até que, mercê das alterações de ordem pessoal e profissional na vida da maioria dos seus membros, a associação passou a ter uma actividade residual a partir de finais dos anos 80. E assim tem subsistido, com participações esporádicas em encontros, congressos, ou saídas de exploração conjuntas em que a associação congénere do Sotavento – o C.E.E.A.A. de Moncarapacho -, tem sido principal parceira.

Perspectivando-se a reactivação da actividade do C.E.S. haverá que constituir um núcleo duro, composto por elementos mais jovens sob orientação dos veteranos, esperando-se destes uma participação pouco mais do que simbólica, efectuando uma ou duas saídas por ano mas participando através de outros contributos que as suas actividades profissionais ofereçam.

Afinal de contas a magia da exploração subterrânea mantém-se, como se mantém a emoção de entrar numa galeria pisada pela primeira vez por seres humanos, uma sala repleta de formações tubulares em pedra brilhante, pendentes do tecto, como se de um fino candelabro de palácio renascentista se tratasse. E para além disso, está outro valor maior, o contacto com a Natureza através das imprescindíveis caminhadas, dos acampamentos, da serena e consciente observação do universo vivo e palpitante que nos rodeia.

Estive lá, cansei-me e trilhei os joelhos, mas enchi a alma de Natureza e recordações.
Voltarei.
...
Fotos registadas na Gruta da Amarela (Rogil – Aljezur) em 31 de Outubro de 2010

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2 comentários:

deodato santos disse...

regresso ao fundo."ir ao fundo e voltar". a 42 é realmente nascer de novo.

Mena G disse...

:)nunca seria capaz. Invejo muito o que nunca ousarei ver.