Faço 50 anos de idade, em breve, e frequento o ensino público desde os sete. Ao longo desses 43 anos paguei, sempre - ou pagaram os meus pais -, a minha instrução em língua portuguesa (porque o ensino gratuito perpetua-se como falácia incontestável no nosso país). Aprendi português no âmbito do Acordo Ortográfico de 1945, sem o considerar melhor ou pior que o de 1911.
Entendo que é estultícia defender uma Língua estática, quando a sabemos dinâmica por acção da sua evolução interna e das influências externas. Porém, também é estultícia forçar a sua dinâmica natural, codificando um novo corpo lexical com base no vocabulário popular. Neste caso do AO de 1990, vocabulário fortemente influenciado pela linguagem de rua brasileira - linguagem caracterizada pela simplicidade e vulgaridade do vocabulário, em que são raríssimos os termos eruditos, e pelos desvios da norma, nos domínios ortográfico, fonético, morfológico e sintáctico. E daí se extraiu o húmus deste novo vocabulário. Mas não vou entrar nas questões técnicas deméritas do AO, que para isso há gente qualificada a escrever todos os dias.
A minha abordagem é esta: tendo pago pelo produto de 1945, porque vêm agora obrigar-me a usar o produto de 1990? Como pretendem que reaprenda, rapidamente, aquilo que fui aprendendo ao longo de 43 anos? E ressarciam-me pelo que gastei durante estes anos? Obviamente que não. Portanto, continuarei a escrever como aprendi e, quanto aos textos que produzo enquanto funcionário público, submetê-los-ei a um conversor automático que lhes dará a forma a que a Lei obriga, e indicarei essa operação: “Texto revisto automaticamente para o AO 1990” . De resto, continuarei a guardar os escritos na ortografia original, a única correcta para alguém da minha geração. Que aprendam os mais novos, de acordo com as novas normas, aceito, mas não aceito essa imposição de conversão apressada e calendarizada.
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