entrefolhos

Franceses, ainda um esforço, se quereis ser republicanos
O título “A filosofia na Alcova” remete para os antípodas do título deste blogue, e por isso lhe presto homenagem, referenciando a obra de Sade.


A jovem Eugénie é encaminhada pelo pai a Madame de Saint-Ange para que esta a inicie nos prazeres do sexo. É entregue a um grupo que pratica as mais diversas e exóticas relações sexuais com a jovem num cenário de sofás, divãs, almofadas e lençóis, onde Eugénie aprende as artes do prazer através do experiente Dolmancé e da Madame de Saint-Ange. Eis o romance do Marquês de Sade "A Filosofia na Alcova". E se o leitor pensa que se trata de uma enciclopédia de perversão, então é porque leu mas não percebeu. A obra recorre ao erotismo como suporte de um discurso contra o teísmo, a monarquia e a legislação penal excessiva. É uma peça de libertação, e não de libertinagem, pois ataca a religião estruturada em Igrejas hipócritas e dementes, e os preconceitos sociais, que se afadigam a reprimir aquilo que é natural, saudável e sagrado. Inundando o mundo com dogmas, preceitos, fantasmas e quimeras repressoras, a religião, as instituições conservadoras, e demais mecanismos de poder fizeram com que o prazer passasse a ser algo nojento. A sensualidade e a sexualidade, das coisas mais belas que a evolução nos deu, foram encaradas como anomalias e comportamentos desviantes, quando na verdade é algo natural e imanente à condição do ser humano. Não uma coisa profana mas sagrada. Esta obra é erótica e cómica, mas também mordaz e muito humana.


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