É uma entrevista de 2012, ao Manuel Sobrinho
Simões. Eis alguns excertos, e aqui o link para a entrevista completa.
«Ser pequeno, periférico,
pobre e católico, e solar, e salgado, tudo isto são factores que não aguçam o
engenho.»
«durante muitos anos a organização
social portuguesa permitia que um tipo, individualmente, se safasse. Outras
organizações sociais, mais calvinistas, mais luteranas, mais do centro da
Europa, não permitiam. Desenvolvemos o “chico-espertismo” porque não temos
grande consciência social.»
«…o acesso às palavras é muito
português e muito latino. As pessoas chegaram às palavras e pensam que já
sabem. Isso criou (falsas) impressões de literacia que não existem tanto
assim.»
«Como massificámos o ensino e
desprestigiámos os professores, como passámos a ter todos acesso aparente à
Internet, e toda a gente tem opiniões, como nos tornámos todos muito vocais, de
repente, em Portugal, não há uma validação do conhecimento.»
«O nosso problema é que nos
tornámos todos emissores de verdades. A cacofonia atingiu coisas inaceitáveis,
com uma incapacidade absoluta de distinguir o essencial do acessório. E isso
não é só culpa dos meios de comunicação social. É culpa dos políticos. Eles são
os grandes emissores. Se tivessem capacidade de distinguir o essencial do
acessório não introduziriam tanto ruído, que depois é acompanhado pela
comunicação social.»
«Todo o conhecimento que temos
vindo a adquirir sobre fenómenos biológicos, meteorológicos, tem-nos permitido
perceber muitíssimo bem a complexidade e tem-nos aumentado a incerteza.»
«Enquanto na Ciência se mantinha um
sistema pequeno, com internacionalização e com avaliação internacional, com
elementos que permitiam que a pessoa subisse ou descesse, tornámos o ensino
superior numa espécie de prolongamento dos empregos dos políticos, dos amigos e
dos primos dos políticos. É a captura dos interesses do Estado central e das
autarquias pelos partidos. E como em Portugal o sistema oscilou entre dois
partidos muito próximos, e muito ligados por interesses, nunca tivemos
alternativa.»
«a eficiência nunca foi
recompensada. A erudição é recompensada. A segunda coisa é o próprio acto de
perguntar. Não temos tradição de perguntar. Em Portugal só se pergunta quando
se sabe, que é uma coisa que não faz sentido. Gostamos de passar por eruditos.»
«Sou o mais social-democrata que
há, não tenho nada de neoliberal. Quero que o Estado seja eficiente, que
proteja os mais frágeis, mas acho que não podemos passar a vida a pendurar-nos
no Estado. Esta situação de crise vai obrigar-nos a repensar algumas coisas.»
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