Nem pensar em usar o Google Tradutor para
traduzir um parágrafo de português para qualquer outra língua, pois aquela
ferramenta não reconhece a nossa língua. Embora figure lá “português” trata-se
de “brasileiro”, com todas as diferenças lexicais, sintácticas e semânticas em
relação à nossa língua. Por isso sai merda de pasmar daquelas traduções.
Os brasileiros bem podiam dar um autêntico
grito do Ipiranga e declarar a existência da língua brasileira. Dessa
forma, sempre declaravam unilateralmente a sua independência em relação aos
“colonialistas” portugueses. É aquela questão do Brasil não ter conquistado a sua independência lutando, pois ela foi-lhes outorgada pela potência colonizadora – caso singular na América Latina.
Claro que quando algum português afirma
que os brasileiros não falam português mas brasileiro é imediatamente alvo da
chacota de outros portugueses que se acham cultos, porque toda a gente sabe que
a língua oficial do Brasil é o português. Ora isto é exactamente a diferença
entre a realidade e a pseudo-sabedoria, realidade que esses “inteligentes”
desconhecem. Perguntem aos actores portugueses a trabalhar no Brasil se não têm
de adoptar rapidamente o vocabulário, e até alguma pronúncia brasileira (ou
abrasileirada), para se fazerem entender em terras de Vera Cruz?! Mas os nossos
“inteligentes” acham que os brasileiros nos entendem como nós os entendemos a
eles (por força da literacia auditiva brasileira que as telenovelas têm
inculcado por cá durante décadas), o que não é verdade. E por outro lado nem
querem ouvir falar em abrir mão da posição que ocupamos no ranking das línguas mais faladas no mundo; uma rematada palermice.
Acho que lhes ficava bem, aos brasileiros,
imporem a diferença da sua língua, uma língua dinâmica, rica e que, nós
portugueses, temos a sorte de compreender, uma língua muito semelhante à nossa
porque é dela derivada, mas diferente na prática do quotidiano e até nas
aplicações mais cuidadas, como o uso no meio científico e na literatura onde ocorrem, com frequência e variedade, adaptações de estrangeirismos e, sobretudo, aquela sintaxe tão diferente da nossa.
Sou a favor da definição diferenciada das
línguas faladas em Portugal e Brasil, e como português não me assustaria nada,
nem acharia redutor, que a língua portuguesa deixasse de ser a 6ª mais falada
do mundo e passasse para o 50º lugar desse ranking de línguas. Afinal de contas
existem apenas 59 milhões de falantes de italiano e no entanto a cultura
italiana é uma referência mundial - sem necessidade de evocar e contabilizar o
contributo da civilização romana da qual os italianos são os mais directos
herdeiros.
Ora, verificando-se que os brasileiros não
vão dar esse renovado e autenticamente merecido grito do Ipiranga, porque se
estão borrifando para esta questão, a alternativa seria darmos nós,
portugueses, o grito libertador, que até podia ser o grito do Ega (um afluente
do Mondego, rio 100% português), libertando-nos dessa opressora língua
brasileira (ou, para nós portugueses, português de terceira categoria). Mas isso nunca faremos porque
o povo português é bacoco e, muito naturalmente, é dirigido por bacocos.
Sem comentários:
Enviar um comentário