da Fotografia




«A fotografia que rendeu o Prêmio Pulitzer a Kevin Carter foi tirada durante a guerra no Sudão - ela é proveniente de Ayod, no sul do Sudão, para onde Kevin Carter e João Silva foram para cobrir o genocídio de tribos cristãs pelo governo muçulmano sudanês.
A fotografia é constituída por uma ave de rapina - um abutre - e uma menina subnutrida. A ave pousa pacientemente a poucos metros da menina - incapaz de percorrer a extensão que falta para um campo de alimentação de refugiados - esperando o desfalecimento da vítima potencial para se alimentar de seus restos mortais. A menina senta em flexão sobre os joelhos, a cabeça baixa pela tontura do sol e da fome e da sede.
'Eu estava fotografando uma criança, mudei de ângulo, e de repente vejo um urubu atrás dela. Continuei fotografando'. Onde?, perguntou João, alarmado. 'Ali', apontou Kevin. João já tinha fotografado a mesma menina, mas sem o urubu. 'Acabo de enxotar o abutre', sentenciou Kevin. Ambos retornaram à África do Sul em silêncio. A foto cruzou o Atlântico e foi abocanhada pelo jornal mais prestigioso do mundo.
A fotografia é a representação da desumanização - pelo processo de construção da representação da realidade pelo fotógrafo e pela desumanidade do próprio fotógrafo atrás da máquina. "Às vezes nos sentíamos como abutres" - conta Greg Marinovich como que comparando o grupo com o abutre fotografado por Kevin Carter - "pisamos em cadáveres, metafórica e literalmente, e fizemos disso nosso ganha-pão". O olhar do fotógrafo se confunde com o da ave de rapina. »

texto completo aqui

3 comentários:

Mena G disse...

Já conhecia esta fotografia. Aliás, foi por causa dela que "vasculhei" sobre Kevin Carter e descobri muitas outras fotos fabulosas. Tanto quanto sei, suicidou-se poucos meses depois de ter feito esta.30 e poucos anos, acho...

francisco disse...

Sim, é o que consta por aí em qualquer biografia dele.
O interesse de repescar esta foto e o que lhe está associado, e o que lhe pode ser associado, tem a ver com as inferências que TIAGO BREUNIG faz acerca do entendimento da experiência contemporânea segundo Walter Benjamim. É um texto que não estou certo de conseguir apreender inteiramente mas, em todo o caso, muito interessante.

Mena G disse...

Já me estás a dar "trabalho de casa"...
:)