Um Conto de Natal


Eram quatro homens de meia-idade sentados no chão do segundo patamar da escadaria do metro. Tocavam instrumentos estranhos produzindo uma exótica e doce melodia e a criança dançava. Era uma menina com pouco mais de três anos de idade que se contorcia graciosamente ao som da música. Dançava, e sorria. Sorriu sempre, enquanto os transeuntes apressados entravam e saíam do metro. Num cartaz ao lado lia-se: Não queremos dinheiro, apenas um sorriso. Fosse pela sonoridade musical e beleza estética do conjunto ou pela mensagem inédita, os passantes hesitavam, suspendendo o ritmo do trânsito quotidiano e escutavam aquela singular banda de rua. Depois, prosseguiam na sua azáfama mas, agora, com um sorriso nos lábios e uma pequena alegria nos corações.

Anos volvidos, a pequena que então dançara no metro, pisava os maiores palcos da Europa e era aplaudida pela sua performance de dançarina, e pelo sorriso radiante que sempre ostentava, em público ou em privado, na actividade artística ou nos momentos mais reservados da sua vida.

Com mil cuidados, reservas e previdências fora educada na eterna presença do sorriso, na artificialidade de uma existência preenchida pela felicidade, sem margem para a tristeza, sem conhecer o sofrimento, sentir a mágoa, ou a mais simples desilusão.

No seu vigésimo aniversário conheceu um jovem de quem esperou um sorriso eterno, como o seu. Mas tal não era possível. O jovem não podia sorrir vinte e quatro horas por dia.

Pela primeira vez na sua vida encontrou a tristeza, sentiu a mágoa, experimentou o sofrimento e, desiludida, suicidou-se.

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