claustro fobias VII (excerto)

II

António, encostado ao balcão, desviou a sua atenção das bolhas de gás em ascensão vertical no interior do copo de imperial e acompanhou, com o olhar, o grupo que deixava o bar rumo à noite estival algarvia. O alegre bando, de sete ou oito pessoas, terminara uma petiscada de chouriça assada, e outros condutos tradicionais, convenientemente regada com tinto de qualidade, suporte generoso para as conversas de navegações lacobrigenses, quer as da Internet quer as dos Descobrimentos. Sem outro motivo de atenção, António escutara, disfarçadamente, parte das conversas. Discretamente, sim, que isso de ouvir conversas alheias não é bonito - mas que culpa tinha ele se já não falavam só os falantes mas o licor também?! Suspirou de enfado, agora que terminava o único motivo de distracção e, com isso, ficasse ele em perigo de se remeter aos pensamentos de sempre, àquelas ideias em beco, tão enviesadas, estéreis e confrangedoras meditações.
Transposta a porta envidraçada, a animada tertúlia encontrou-se no exterior, admirando a enorme lua cheia que conferia ao casario fronteiro um aspecto estranho por via das sombras projectadas entre si e que a fraca iluminação pública não conseguia atenuar. Era uma esplêndida noite primaveril.
O homem saiu da sombra do prédio em construção avançando, hesitante e gingão, na sua reduzida estatura. Trazia, colocados, uns auscultadores enormes, de aparelhagem áudio, com o fio helicoidal pendurado ao longo da camisa escura; nesta triste figura de ar grotesco apresentou-se, balbuciando: - Boa noite. - Sou o Henriques.
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