resposta a um comentário

(a insistência do obtuso levou-me a recolocar este post em 2007.11.30)


Anónimo disse...

Hoje roubei um naco tempo à minha música para ler o teu Claustro Fobias. Eis a minha crítica simples, não sei de literatura por isso não vale a pena teres medo. Sei que não sou do grupo de pessoas das quais te interessa saber a opinião ou a avaliação do livro.

Morreu uma freira e deixou algumas palavras a serem gravadas na lage tumular da sua campa.
Qualquer coisa como isto:
"Nasci virgem,vivi virgem, entreguei-me a deus, a nosso senhor jesus cristo,e morri virgem". O canteiro olhou para as palavras e começou a gravação. Uns dias depois, alguns familiares e amigos da freira foram buscar a lápide e para surpresa sua estava escrito na pedra, "Nunca fui Fodida". Indignados -Então o que é isto ?
Resposta do canteiro - Era o que ela queria dizer !
Meu caro Castelinho, no Claustro Fobias abriste o cofre das palavras de ouro, consultaste compêndios e manuais, para dizeres que um pobre diabo qualquer fornicou uma freira.
O canteiro foi muito mais prático.
Tenho dito...



Meu caro anónimo.


Se eu quisesse dizer que um pobre diabo qualquer fornicou uma freira, tê-lo-ia dito. Só que o que eu quis fazer foi um exercício de escrita.
Certamente poderíamos reduzir toda a literatura a pequenas e concisas frases, isto é, podíamos varrer a Literatura da face do planeta e do espírito das pessoas – até já houve vários índex e autos de fé aos livros, queimados em fogueiras públicas.
E em certa medida é isso que vai acontecendo. No concelho de Lagos p. ex., ao submeterem-se crianças de um grupo do 1º ciclo a um “trabalho de casa” que implicaria consultar alguns livros, as educadoras descobriram que o auxílio dos pais tinha consistido em consultar revistas de notícias sociais, vulgo revistas cor-de-rosa (c. 50%), jornais (c. 13%), enciclopédias (2%), e os restantes 32% não fizeram qualquer consulta. Ninguém abriu um livro! Provavelmente, não se lembraram da música, ou teriam consultado a literatura inclusa nos CD’s do Quim Barreiros e do Emanuel.
É verdade que poderíamos reduzir o Conto Claustro Fobias a isso, se ao menos estivesse certo. Como erraste no género de um dos intervenientes isso prova que não dominaste a “literatura”. Não compreendeste a coisa. Talvez devido às "palavras de ouro"?!
Meu caro, se reduzíssemos tudo a tão pouco não nos faziam falta poetas, escritores, filósofos…nem músicos, pois bastava assobiar ou trautear uma merda qualquer - bastavam-nos os canteiros de lápides.
O recurso às “palavras de ouro” é uma das condições da Literatura. Marca a diferença entre o homem das cavernas que diz “oinc…oinc” para exprimir um simples “gosto de ti” e o homem culto que diz (neste caso até é uma mulher a dizer):


Sentei-me na varanda dos teus olhos

E fiz um poema ao branco das flores

Foi o poema mais belo que fiz

Não tinha expressões roubadas aos dicionários do difícil

Não necessitou dos pássaros de Llorca

Não falou das areias do deserto

Nem do fogo da noite que arde

Ou de voos envoltos em branco de luar

Tinha a tranquilidade dos eremitas

E o silêncio da tarde onde a tarde se cala

Tinha o fresco da madrugada e o vermelho do sol

Do dia que nasce a esperança que ri.

O poema mais bonito que já fiz

Dizia apenas

Gosto de ti...

(Maria)


Porém, assiste-te o direito e a liberdade de escolheres o “oinc…oinc”. Respeito, mas não partilho a tua opinião. Como já to tinha dito.

:p


10 comentários:

ND disse...

pois olha que se ele é das cavernas (não sei quem é, a sério)deixou-te um comentário que não é só apetitoso pela ironia; revela saber na construção da personagem, no caso a do canteiro. E estou a falar a sério.

éf disse...

Claro que revela, n. É uma anedota à moda antiga que encerra um precioso ensinamento mas, a simplicidade (e a humildade) que reclama para o discurso escrito, naquele particular, não pode alcandorar-se a razão damocliana que impõe ou defende a desmobilização da criatividade linguística e literária.

ND disse...

:D
acredita que só depois de deixar o comentário é que me ocorreu (pela brejeirice do tom) que poderia ser 'anedota à moda antiga'.
Bem-feita para mim. Devia conhecer melhor a sabedoria dos antigos. :)

éf disse...

N. Esse facto não retira mérito algum ao comentário. E o AGasp merece apoio, é um tipo porreiro. Eu é que não resisto a esgrimir... provocações.

;)

Unknown disse...

manual de cínicos: as visitas dão sempre prazer -- se não quando chegam, pelo menos quando se vão embora
(o cinismo é a loucura do bom senso)

éf disse...

welcome back maria. eu sabia que as boas amigas voltam sempre.

Unknown disse...

manual de cínicos: quando te sentes completamente em baixo, aparece sempre alguém-- geralmente a ponta do nariz dos teus amigos
(o cinismo é a loucura do bom senso e eu acho óptimo!)

ND disse...

por causa de um desafio do Francisco L, acabei linkando blogues que não conhecia ou conhecia mal. Fiquei perplexa com a amplitude da minha caverna :)
vou continuar nela, lá fora há muito ruído.

Anónimo disse...

Caro Castelo
Volto à carga sobre o C.Fobias, porque está em causa a defesa
o meu património "intelectual".(esta é boa não é?)
Quando dizes que eu - Não conpreendi a coisa e que optei pelo "oinc...oinc" fiquei a pensar que continuas pensar que sou só um bom moço e que ando neste mundo a encher pneus. Pois não é bem assim!
Devo dizer-te que te falta teres "andado" na escola Marreca, como eu. Falta-te ver o mundo como eu vi e falta-te o contactado
com artitas com quem eu trabalhei. Este lugar aonde vivemos não está no mapa e não basta fumar de cachimbo e escrever umas palavras jeitosas para... (eu até já fumei de cachimbo e sofri da doença "importância" mas tinha 17 anos)
Continuo a pensar que a tua claustro fobia é um começo pelo fim. Como o pintor que nada pintou e que começa de imedediato pelo o abstracto.
Desculpa,mas vejo no claustro um certo pretensiosismo, e o teu "exercício de escrita" não me diz nada. Eu podia ornamentar este pequeno texto com elementos aleatórios de palavras d'oiro (que tu disseste que eu não compreendia), mas não o faço porque não temo que digam que sou um homem das cavernas e porque gosto que a maioria das pessoas entendem o que escrevo, e não tenho algum complexo de escrever a linguagem dos menos favorecidos. Ao contrário de ti.
Compreendo o teu desejo a tua ânsia de reconhecimento e de algo mais, foi assim comigo quando aprendi música e escrevi a minha primeira peça.
Penso que podes aproveitar a minha crítica,ou então cagares para ela. A escolha é tua.
Ser humilde e ser submisso.
Uma dica mais-compreendo porque tens aquele "professor" de guitarra. Aí está o que é realmente o teu carácter- nunca mostar que não sei.
Estas palavras porque havia uma indelicadeza ligeira no "não compreendeste a coisa e "onic...oinc".Quanto aos exemplos do Emanuel e companhia, eu não vou à bola com o pimba, mas o Emanuel tem um curso superio de música.
E tu ao que julgo...

Um beijo

éf disse...

Continuas a não perceber, e não me admira nada. Apanhaste com tanta gente armada em importante, ao longo da vida, que quando encontras alguma coisa que te escapa à compreensão enfia-la no mesmo saco, nesse saco dos pseudo-qualquer-coisa. Paciência. Hoje, há por aí mais gente interessada em parecer rude e tosca, do que em parecer intelectual. São as influências da pimbalhice cultural que medra neste país. Mas tu não precisas imitar nada disso. Tu és uma pessoa de cultura popular genuína, isso não te envergonha (nem deve), mas também não te dá o direito de gozar com os que não têm essa cultura tão pop. Ou também andas na onda do brejeiro e ordinário, porque é giro e está na moda? Não andas, não acredito. Portanto, a tua crítica é apenas reflexo da tua incapacidade. E é natural. Tal como a minha escrita não deixa de reflectir as minhas incapacidades.

«e não tenho algum complexo de escrever a linguagem dos menos favorecidos» - presumo que te refiras aos mentalmente menos favorecidos?! Em todo o caso eu não acho isso. Cada um escreve como sabe e como quer. Eu escrevo assim e pretendo escrever melhor ainda. Tu fazes gala em escrever da forma como escreves e "insultas" a forma como escrevo.
Pretensioso, eu? Tá bem!


(a do "professor" de música é reveladora do nível para onde quiseste levar a conversa (e eu aceitei). mas sei que entre músicos é como entre barbeiros, arquitectos, pescadores, fotógrafos, etc: porrada no gajo, que eu sou melhor! mas olha, para além do tal professor de música ser também uma pessoa de cultura popular genuína, é o único que se disponibiliza a ensinar umas modinhas à malta.)