Vamos à Festa?

Eu: - A História insiste em afirmar-nos o facto em que é mais profícua. O da nossa enorme falta de capacidade em dirigir. Não fossem alguns estrangeiros (oportunistas, nas mais das vezes), e outros de sangue luso que recolheram experiências diferentes e formação em terras distantes, os exemplos de verdadeira liderança de berço luso, ocorridos ao longo dum milénio de História, contar-se-iam pelos dedos das mãos. Daqui se deduz que imputo, claramente, aos que dirigem, o mau resultado da nossa prestação enquanto Nação, País e Estado.
Evidentemente, os dirigentes não são só os políticos mas também os empresários, os directores, os chefes. Todos os que, mal preparados, não sabem nem nunca souberam dirigir. Recomendar-lhes que sejam mais humildes é tarefa infrutífera, sendo, até, perigosa pois tende a conduzir-nos ao desditoso “discurso do desgraçadinho”, esse oposto da “nacional cagança”.
Melindrados, confrontados com um discurso crítico ensaiado por figuras sensatas que esporadicamente, muito esporadicamente, erguem a cabeça e bradam, rapidamente soçobram nos braços do desânimo, remetendo culpas para o eterno fado de ser português, imputando ao sobrenatural – como se vivêssemos ainda na alvorada da civilização, no tempo dos mitos – amaldiçoando o azar, acendendo círios à Divina Providência. Portugal não teve nunca nenhuma revolução social significativa. Não temos uma única figura digna de figurar na história do pensamento sistemático. Até, por isto, não poupo culpas à ignara herança cultural judaico-cristã mas, sobretudo, a estulta visão que o catolicismo construiu do mundo, do Homem e de Deus.
Herdeiros, cultores e defensores acérrimos de tais desvalores, perdemos tempo e energias comprometendo e delapidando o património mais valioso da nossa aventura comum, o potencial humano: sempre profundamente condicionado, muitas vezes escravizado, encarcerado, sovado e, bastas vezes, expulso para lá das fronteiras.
E a Globalização não augura mudanças correctivas pois que os dirigentes continuam néscios e as novas gerações não alcançam outro alimento cultural que não seja coisa fútil e estéril. Na hora de regressarmos ao Mar, em força e com determinação, em busca de sustento económico, construindo uma esperança credível no futuro, continuamos a olhá-lo contemplativamente, como fonte inspiradora para contos e poemas, enquanto, sentados, aguardamos o regresso da frágil e pueril figura messiânica sebastianina.
E tudo isto porque sempre estivemos na periferia da Europa, nunca na Europa e, hoje, que tentamos integrá-la, continuamos ausentes nela/dela. Vivemos a ilusão de ter retornado à Europa, mercê de integrarmos as estruturas da União e desta recebermos fartos pecúlios. Ora, a Europa não é casa nossa, não é pertença nossa. Primeiro, porque nos tempos mais remotos que vêm do antes da História, os influxos externos tardaram sempre a chegar a esta fronteira da civilização com o Nada que era o Oceano, como tal andámos sempre desfasados do tempo e das dinâmicas continentais, depois, mais tarde, porque embarcamos para sulcar esse Oceano e afastámo-nos da Europa. Enquanto isso, o centro-Europeu, esse caldeirão de dinâmicas políticas e sociais encetou o seu caminho, procurou respostas nas revoluções sociais e mentais, de que Copérnico e as guerras de camponeses são exemplo. E operou mudanças importantes: alterou a paisagem humana fazendo emergir novas vivências secularizadas, naturais, livres. Nós, não. Embarcámos e fomos por aí, à descoberta de novos espaços, novas realidades livres dos condicionalismos europeus, espaços onde pudéssemos recomeçar. Fugimos da Europa. No entanto, agora queremos estar de volta. Ora, será que a nossa mentalidade, a forma de ver a Europa, e a disponibilidade para participar nela, mudou consideravelmente? E nós, construtores acidentais de um diálogo com outros espaços além-mar, criadores de uma nova concepção do próprio espaço-mundo afastámo-nos dessa criação e esboçamos, de forma ténue, o desejo de pertencer a essa Europa que, afinal, sempre, intencionalmente, ignorámos. E acreditamos que ela nos traz a salvação, a renovada oportunidade de recomeçar, esse alimento da nossa eterna insatisfação e inquietude.
Mas não é assim. Não virão de fora as soluções, nem de dentro da Europa, pois que não estamos verdadeiramente nela. E continuamos ancorados à falsa memória de um Império rectangular, à beira mar plantado. Um Império de riquezas, facilidades e venturas que nos cabem por direito sagrado e divino como o anunciou Camões.
Assim reflectindo, concluo que o novo ano não augura melhorias. Encravados entre as ditas reformas do Estado; a manutenção, senão agravamento, do deficit; a ausência de crescimento económico; o aumento do custo de vida; a dissolução das, já, frágeis, condições de acesso à Saúde e à Justiça; 2008 afigura-se-me como mais um ano de degredo interno, nesta enorme penitenciária em que o País se tornou. Presos uns, guardas os outros, reclusos todos.
Voto para o novo ano: QUE SE MEXAM E PROCUREM MUDAR ISTO. Participem, procurem informação, duvidem, discutam, sejam críticos e exigentes. Abram os olhos, O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER.
O meu outro EU: - Não sejas parvo, não vês que não está ninguém em casa?! A malta tá na festa!!!

5 comentários:

TheOldMan disse...

Boa Festa e Bom Natal, Francisco de Blog.

Abraço

;-)

éf disse...

Obrigado. Retribuo os votos, Mestre.
;)
Abraço

vieira calado disse...

Oh, Chico!
Ainda ontem a noite caiu devagar sobre os meus ombros!

Aina da ontem estive no Leonardo
até fechar: quatro e tal da matina,
e tenho quase 70 as!...

éf disse...

eu sou mais velho que isso, Vieira.
já não aguento tanto.
;)

Anónimo disse...

Um Bom Ano para ti, Francisco :)