Pestinha engarrafada

Desenvolvo fraca potência de escrita, um baixo ritmo de produção de letras entusiasmadas umas com as outras — e isso acontece porque sou muito indolente de palavras. Tudo somado, não dá sequer para encher um copo do Bordeaux Château Bérard 2006 que acompanhou, ontem, as enguias fritas.

Quanto às corsárias intertextualidades, ou aos piratas copy/paste, tenho dificuldade em definir fronteiras com rigor. Mas nunca escondi que uso versos de outros como mote para contar qualquer coisa minha — ou que penso ser minha. Em mim, a poesia só acontece por acidente [aposto que já alguém escreveu isto antes].

Já nas orgias de letras dispostas em alinhamento horizontal, a coisa é diferente. Aí, bebo de várias fontes e cozinho uma prosa, por vezes curiosa, outras vezes insossa.

Não escrevo por impulso nascido da vontade de relatar coisas mirabolantes, denunciar alarvidades, ou por ímpeto de gritar ao mundo que entalei o dedo na porta do carro — escrevo apenas motivado por duas minúsculas tesões: alimentar o ego, imaginando ter provocado alguns risos; tivesse eu vivido na Idade Média e teria sido Bobo da Corte (ou Inquisidor, que também tem o seu quê de sedutor).

A outra pequena pulsão libidinosa vem desta pancada antiga: a mania de arredondar a escrita e ficar a olhar para ela, hipnotizado, embora ache sempre que ainda não está perfeita.

Quem muito escreve, pouco acerta no que diz, mas melhora a forma de o dizer [aposto que também já alguém escreveu isto].

Em suma, agora que descobri o Bordeaux, já não quero saber do Mezcal de Monchique.

Ibero, no fundo de cada garrafa de tinto, descobre o Pelágio que há em ti! [aposto que ninguém escreveu isto antes].

Saúde!





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