A fotografia, captada em contexto que nada deve ao conteúdo que se apresenta aqui, é usada para representar a evolução rumo ao homem biónico que, para além de “optimizado” nas suas capacidades físicas – não fuma, não ingere álcool e copula agendado – complementa o seu porte físico com apêndices hi-tech, dilatando o seu porte atlético, levando-o a acreditar-se capaz de desafiar Hermes.
Mas notem que é um homem sem cabeça (animal racional superior - entendo que o superlativo é apenas por não existir termo comparativo à altura), pois para coordenar simplesmente o amontoado de músculos, basta um pequeno chip no alto do pescoço. Recusa-se este homem a olhar além do seu corpo, ou de um outro temporariamente adentro do seu espaço vital por razões de prazer ou procriação. E é nessa recusa de sair de si, de pensar e agir, que o homem cede à NÃO CULTURA.
Vem isto a propósito dos inúmeros livros que se publicam neste país, especialmente nesta época, supostamente para que os veraneantes ocupem o intelecto com ARTE (coisas que mudam a mente). Ora, escrever/publicar um livro é um acto de arte, e é um grito de guerra. Porém, tal coisa é impossível num país sem guerreiros. Os que publicam profusamente são, na maioria, gente comatosa, entrincheirada, aprisionada, ou engajada na conservação do statu quo. Um livro, qualquer livro a sério, de fotografia ou um romance, exige inquietude, angústia, raiva, desespero, revolta, ressentimento, temperamento trágico e conhecimento exterior a si. Exige o concurso de todas estas propriedades ou apenas de algumas, mas não seguramente as "qualidades" que escoam das páginas da maioria do que é publicado entre nós. Pura lerdice imprópria para exercitar a inteligência.
A única coisa que por cá se publica é folhetins de passeios de endinheirados meninos de outrora, hoje figuras de ecrãs. Isso, e biografias encomendadas, de putas demandando ajustes de contas. Comparativamente, este segundo tema merece mais crédito, pelos atributos éticos e morais das biografadas, mas não pela qualidade literária dos volumes produzidos.
Cuidem-se, pois, das obscenidades que as editoras apresentam nesta altura e rebusquem nas literaturas de épocas em que existiam escritores – gente que usava a cabeça e não apêndices de carbono –, as obras para vosso deleite intelectual. Fica uma sugestão: “A Derrocada da Baliverna”, de Dino Buzzatti.
A evitar: Reedições de Lobsang Rampa (que estas coisas da terceira visão são viciosas), ou os comoventes moralismos de Paulus Lepus.
Boas Férias.
6 comentários:
Bom, caro "f", as leituras de Lobsang, foram interessantes numa época específica em que se escutava Genesis, Led Zeplin, Super Tramp, Janis Joplin, Jimi Hendrix e mais um porradão deles que nos faziam sentir a dominar a arte tibetana de conseguir que a mente se separasse do corpo, and so, and so...
Evidentemente que estamos perante uma filosofia, pouco diferente do sonho de Ícaro, mas que perdurou até aos nossos dias e que promete evoluir. Já Goeb havia sonhado construir uma máquina que oferecesse ao homem o poder de dominar a meteorologia a seu belo prazer e o resultado foi uma catastrofe.
No capítulo da reprodução é que as minhas dúvidas ganham um volume exorbitante, mais. Se não for criado urgentemente um banco de esperma, duvido que daqui a 20 anos haja "matéria-prima" para renovar a raça humana.
Caro Bartolomeu, um banco de esperma para quê? Ainda algum administrador dividia o pecúlio pela família com prejuízo dos depositantes e restante clientela.
Este país já não tem remédio. Só uma "raspagem" total, e novos inquilinos.
;)
“A Derrocada da Baliverna”, de Dino Buzzatti. vou ver o que é isso!
o que resta sempre da literatura, a única, é a capacidade de permanência.
bom manifesto: ainda te encomendo uma epígrafe.
carlos
s. joao do pau.
ó carlitos, a "Derrocada da Baliverna" pede mesmo é uma derrocada de sardinhas assadas.
;)
Sobre o assunto inicial do teu texto, proponho o seguinte livro:
BREVE HISTORIA DO CORPO E DE SEUS MONSTROS
de Ieda Tucherman
Vou investigar Caro Jorge Rocha, e obrigado.
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