A escrita que me interessa produzir não é um exercício do absurdo, ou réplica literária da dramaturgia de vanguarda, embora receba daqui alguma influencia – nomeadamente na apresentação dos distintos momentos (tradicionalmente capítulos), como quadros cénicos salpicados de atmosfera teatral. O que escrevo tenta inserir-se na linha da nova estirpe do romance histórico, moldada no pós-modernismo, que trata a história com uma independência absoluta. Nestas ficções pós-modernas, o “tratamento” dado à história recorre a paradoxos, exageros, a sucessões de elementos díspares aparentemente desordenados, atingindo por vezes a desconstrução total do facto histórico. Livre da sua natureza temporal linear, dessa tirania do discurso do contínuo, a história é apresentada como uma sequência de intercalações, uma sucessão de sobressaltos cronológicos.
Será coisa perturbadora mudar assim a história, mas esta peculiar opção literária vive do diálogo individual do autor com a história, procurando, entre outros aspectos, que as suas construções especulativas contestem a resignação perante a falsa inevitabilidade do facto pretérito, resultando um: - … se não foi assim, podia ter sido!
O alvo principal deste discurso irónico é o repositório dos factos estabelecidos bem como as interpretações desses factos. O devir histórico, na sua caminhada, apresenta-se como um desgaste de vidas, de opções e de oportunidades, uma vez que a escolha de uma única possibilidade implicou a eliminação das alternativas. Eis o campo de batalha desta ficção pós-moderna, a metaficção historiográfica, que elege a impossibilidade como propósito: as possibilidades perdidas, descartadas, do passado, são apresentadas como tendo realmente acontecido.
Tivesse eu a preocupação de escrever para os outros e este seria o móbil da minha acção, um desafio lançado ao leitor: Entre a “certeza” da história real que sobejamente conhece e a história possível que a ficção lhe apresenta forma-se um momentum de reconstrução do conhecimento, que compete ao leitor moldar até onde o seu interesse e as suas capacidades o permitam. Mas não é esse, exactamente, o meu motivo. Iniciado no conto Claustro Fobias, continuo o exercício da escrita, por um lado naquilo que respeita à forma, aperfeiçoando a sintaxe, procurando o equilíbrio entre a limpidez discursiva e os artifícios das figuras de estilo ou de um vocábulo mais pomposo, agora com o desafio acrescido que representa a construção de um texto que se inscreva na corrente da metaficção historiográfica; e por outro lado na utilização do léxico da primeira metade do séc. XV, especialmente a terminologia náutica desse período.
Esse é o exercício que me proponho realizar, escolhendo como ponto de partida cronológico, o ano de 1434, e o espaço físico, a cidade de Lagos. Mas são apenas pontos de partida, não sabendo ainda por onde, e quando, na linha do tempo, viajarão os personagens do(s) enredo(s). O mar e a navegação afirmam-se como moldura e fundo da narrativa. Os personagens, como Gil Eanes e outros, hão-de agir e interagir numa conformidade ora verosímil, ora desconcertante, ao sabor dos ventos e marés da imaginação, do desassossego e do inconformismo do autor.
O primeiro quadro já foi publicado aqui. Quer se trate de um capítulo meramente exploratório, quer venha a integrar o texto final, o mote está dado.
Será coisa perturbadora mudar assim a história, mas esta peculiar opção literária vive do diálogo individual do autor com a história, procurando, entre outros aspectos, que as suas construções especulativas contestem a resignação perante a falsa inevitabilidade do facto pretérito, resultando um: - … se não foi assim, podia ter sido!
O alvo principal deste discurso irónico é o repositório dos factos estabelecidos bem como as interpretações desses factos. O devir histórico, na sua caminhada, apresenta-se como um desgaste de vidas, de opções e de oportunidades, uma vez que a escolha de uma única possibilidade implicou a eliminação das alternativas. Eis o campo de batalha desta ficção pós-moderna, a metaficção historiográfica, que elege a impossibilidade como propósito: as possibilidades perdidas, descartadas, do passado, são apresentadas como tendo realmente acontecido.
Tivesse eu a preocupação de escrever para os outros e este seria o móbil da minha acção, um desafio lançado ao leitor: Entre a “certeza” da história real que sobejamente conhece e a história possível que a ficção lhe apresenta forma-se um momentum de reconstrução do conhecimento, que compete ao leitor moldar até onde o seu interesse e as suas capacidades o permitam. Mas não é esse, exactamente, o meu motivo. Iniciado no conto Claustro Fobias, continuo o exercício da escrita, por um lado naquilo que respeita à forma, aperfeiçoando a sintaxe, procurando o equilíbrio entre a limpidez discursiva e os artifícios das figuras de estilo ou de um vocábulo mais pomposo, agora com o desafio acrescido que representa a construção de um texto que se inscreva na corrente da metaficção historiográfica; e por outro lado na utilização do léxico da primeira metade do séc. XV, especialmente a terminologia náutica desse período.
Esse é o exercício que me proponho realizar, escolhendo como ponto de partida cronológico, o ano de 1434, e o espaço físico, a cidade de Lagos. Mas são apenas pontos de partida, não sabendo ainda por onde, e quando, na linha do tempo, viajarão os personagens do(s) enredo(s). O mar e a navegação afirmam-se como moldura e fundo da narrativa. Os personagens, como Gil Eanes e outros, hão-de agir e interagir numa conformidade ora verosímil, ora desconcertante, ao sabor dos ventos e marés da imaginação, do desassossego e do inconformismo do autor.
O primeiro quadro já foi publicado aqui. Quer se trate de um capítulo meramente exploratório, quer venha a integrar o texto final, o mote está dado.
2 comentários:
Se não fossem os "adornos" com que ao longo dos anos os diversos autores vão enfeitando a nossa verdadeira história, certamente encontraríamos uma coisa sem jeito e desprovida de qualquer atractivo. Por muito ficcional que venha a ser esse conto, não será menos real que as histórias do insigne professor José Hermano Saraiva.
Vamos a isso!
Um abraço
Eira-Velha, o ilustre Professor é um dos maiores comunicadores que temos entre nós, anda é noutra onda da metaficção historiográfica. Em todo o caso, aqueles programas televisivos pretendem apenas mostrar o país, sobretudo às comunidades de emigrantes, que se deleitam com aquelas histórias.
Pois, vou a isso, e já comecei a anotar a trama, falta-me é juntar ao rol de meia centena de livros e documentos de consulta, um dos mais importantes, a que ainda não consegui deitar a mão, este: "A Terminologia Naval Portuguesa Anterior a 1460", de Maria Alexandra Tavares Carbonell PICO - Editado pela Sociedade de Língua Portuguesa - Lisboa, 1963.
Se por acaso souber do paradeiro de um exemplar, agradeço a indicação.
Abraço.
;)
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