Artigo resultante de troca de comentários num post do blogue portugal dos pequeninos publicado no canallagos, revisto, e republicado aqui.
O ditador, a amiga, a francesa, a quiromante, a afilhada, a governanta, a outra mais nova, o choffeur, a condessa, o cardeal… a SIC, e os espectadores portugueses.
Vi a Soraia Chavez a seduzir Salazar e este a alternar entre uma pronúncia axim e outra assim. Vinguei-me! A SIC vingou-me daqueles meus amigos que dizem já ter visto um porco andar de bicicleta e que portanto já viram tudo. E como eu não vi tal façanha porcina…
Entretanto, arde a blogosfera em escritos incendiários, evocativos e explicativos do “porque Salazar faz falta”. Inflama-se lançando o anátema sobre a SIC que ousa vulgarizar a imagem do “grande estadista” que, no dizer de alguns: “governou uma nação pluri-continental do tamanho da Europa e consta que morreu pobre e nunca se deixou manipular pelos banqueiros ou plutocratas”; “Salazar ficou e está na História como um político de categoria mundial, um professor catedrático de finanças com obra publicada e realizada e um pensador político e social com muita actualidade”.
Um outro bloguista parece gritar até à rouquidão: “QUANTO MAIS TENTAREM DESVALORIZAR, O GRANDE ESTADISTA E PORTUGUES, MAIS O ELEVAM A UMA CATEGORIA SUPERIOR....PORQUE ELE ERA MESMO SUPERIOR. CHOCAR-ME-IA SE ELE GOSTASSE DE HOMENS, AGORA UM HOMEM COM H GRANDE GOSTA SEMPRE DO BELO, DO FEMININO, NADA DE CONFUSÕES. BEM TENTAM ESTES GANGS DENEGRIR ESSE GRANDE FILHO QUE A NAÇÃO NOS DEU.”
E a coisa segue, num coro rameloso: “Quando se começar a analisar a vida íntima destes hominídeos que tentam desesperadamente diminuir e achincalhar Salazar, então é o bonito!” e “Salazar foi o maior estadista do século XX, basta ler um pouco sobre o Estado Novo. É evidente, que para os malfeitores que nos governam, sentem necessidade de diminuir a grandiosidade de Salazar, é que se o povo começar a comparar vai perceber que anda a ser roubado desde o 25 de Abril.”
E eu discorro, placidamente (que estas coisas já não me revoltam): Pois, o povo anda a ser roubado mas não é apenas desde o 25 de Abril. Sem retornar ao Alentejo dos anos 50 e às campanhas do trigo que deixavam com fome quem nelas trabalhava, (assim mo diz a minha mãe, por experiência própria), fico-me pelo que vi em finais dos anos 60 e inícios dos 70: o povo que trabalhava nas fábricas da Indústria Conserveira, 12 ou 14 horas por dia, para receber um salário de miséria. Eu sei, porque estava lá. Já nessa altura alguém andava a roubar o povo, ou não?
Desgraçado país, este, em que, esquecida a ética e abandonados os valores do humanismo elementar no exercício da política, se recorre à evocação e se tenta recuperar a memória de um homem vulgar que só foi grande no autoritarismo a que submeteu o seu povo. Recatado, simples, honesto com o erário público? Pouco me interessa e nem discuto, aceitando por verdadeiro. E o resto? Quantos morreram e quantos viram as suas vidas trucidadas em nome de um ideal pátrio imperial e anacrónico – para meados do séc. XX – fundado em teorias patéticas como o lusotropicalismo?
Quanto custou a este país o imobilismo do Estado Novo, a proibição do liberalismo económico, o proteccionismo dispensado a meia dúzia de oligarcas, o cerceamento da iniciativa privada, o adiamento da construção de um estado moderno?
A História não se repete, ciclicamente, como se tal estivesse inscrito num fado predeterminado pela divindade. Somos nós que repetimos os erros e, dessa forma, andamos às voltas em vez de avançar. E é um erro avaliar os políticos de hoje – mesmo que estes sejam péssimos, como são –, pela bitola de um ditadorzeco que só não deve ser esquecido porque devemos evitar repetir o erro de adoptar outra figura paternalista como o Dr. Salazar.
Entendo o desespero de quem não encontra na nossa história contemporânea, nem na praça pública de hoje, uma figura carismática, honesta e protectora (ao ponto de nos resolver todos os problemas; exorcizar os medos, proteger do vizinho do lado, do chefe, do drogado, do ladrão e do patrão), que sirva de modelo. Mas a essência da Democracia é assim, dispensa tutores e clama à participação de cada cidadão. Sem participação cívica e política resta-nos o regresso cíclico e errático à ilusão salazarista… ou sebastianista para os que sintam pudor em identificar-se com o Don Juan de Santa Comba Dão.
Quanto à produção da SIC, não merece mais do que um gracejo: Bem pode navegar na corrente da metaficção historiográfica, um sucedâneo de pós-modernismo que postula (numa das pronúncias videográficas do paizinho da nação): “Não foi axim, mas podia ter xido!”.
Vi a Soraia Chavez a seduzir Salazar e este a alternar entre uma pronúncia axim e outra assim. Vinguei-me! A SIC vingou-me daqueles meus amigos que dizem já ter visto um porco andar de bicicleta e que portanto já viram tudo. E como eu não vi tal façanha porcina…
Entretanto, arde a blogosfera em escritos incendiários, evocativos e explicativos do “porque Salazar faz falta”. Inflama-se lançando o anátema sobre a SIC que ousa vulgarizar a imagem do “grande estadista” que, no dizer de alguns: “governou uma nação pluri-continental do tamanho da Europa e consta que morreu pobre e nunca se deixou manipular pelos banqueiros ou plutocratas”; “Salazar ficou e está na História como um político de categoria mundial, um professor catedrático de finanças com obra publicada e realizada e um pensador político e social com muita actualidade”.
Um outro bloguista parece gritar até à rouquidão: “QUANTO MAIS TENTAREM DESVALORIZAR, O GRANDE ESTADISTA E PORTUGUES, MAIS O ELEVAM A UMA CATEGORIA SUPERIOR....PORQUE ELE ERA MESMO SUPERIOR. CHOCAR-ME-IA SE ELE GOSTASSE DE HOMENS, AGORA UM HOMEM COM H GRANDE GOSTA SEMPRE DO BELO, DO FEMININO, NADA DE CONFUSÕES. BEM TENTAM ESTES GANGS DENEGRIR ESSE GRANDE FILHO QUE A NAÇÃO NOS DEU.”
E a coisa segue, num coro rameloso: “Quando se começar a analisar a vida íntima destes hominídeos que tentam desesperadamente diminuir e achincalhar Salazar, então é o bonito!” e “Salazar foi o maior estadista do século XX, basta ler um pouco sobre o Estado Novo. É evidente, que para os malfeitores que nos governam, sentem necessidade de diminuir a grandiosidade de Salazar, é que se o povo começar a comparar vai perceber que anda a ser roubado desde o 25 de Abril.”
E eu discorro, placidamente (que estas coisas já não me revoltam): Pois, o povo anda a ser roubado mas não é apenas desde o 25 de Abril. Sem retornar ao Alentejo dos anos 50 e às campanhas do trigo que deixavam com fome quem nelas trabalhava, (assim mo diz a minha mãe, por experiência própria), fico-me pelo que vi em finais dos anos 60 e inícios dos 70: o povo que trabalhava nas fábricas da Indústria Conserveira, 12 ou 14 horas por dia, para receber um salário de miséria. Eu sei, porque estava lá. Já nessa altura alguém andava a roubar o povo, ou não?
Desgraçado país, este, em que, esquecida a ética e abandonados os valores do humanismo elementar no exercício da política, se recorre à evocação e se tenta recuperar a memória de um homem vulgar que só foi grande no autoritarismo a que submeteu o seu povo. Recatado, simples, honesto com o erário público? Pouco me interessa e nem discuto, aceitando por verdadeiro. E o resto? Quantos morreram e quantos viram as suas vidas trucidadas em nome de um ideal pátrio imperial e anacrónico – para meados do séc. XX – fundado em teorias patéticas como o lusotropicalismo?
Quanto custou a este país o imobilismo do Estado Novo, a proibição do liberalismo económico, o proteccionismo dispensado a meia dúzia de oligarcas, o cerceamento da iniciativa privada, o adiamento da construção de um estado moderno?
A História não se repete, ciclicamente, como se tal estivesse inscrito num fado predeterminado pela divindade. Somos nós que repetimos os erros e, dessa forma, andamos às voltas em vez de avançar. E é um erro avaliar os políticos de hoje – mesmo que estes sejam péssimos, como são –, pela bitola de um ditadorzeco que só não deve ser esquecido porque devemos evitar repetir o erro de adoptar outra figura paternalista como o Dr. Salazar.
Entendo o desespero de quem não encontra na nossa história contemporânea, nem na praça pública de hoje, uma figura carismática, honesta e protectora (ao ponto de nos resolver todos os problemas; exorcizar os medos, proteger do vizinho do lado, do chefe, do drogado, do ladrão e do patrão), que sirva de modelo. Mas a essência da Democracia é assim, dispensa tutores e clama à participação de cada cidadão. Sem participação cívica e política resta-nos o regresso cíclico e errático à ilusão salazarista… ou sebastianista para os que sintam pudor em identificar-se com o Don Juan de Santa Comba Dão.
Quanto à produção da SIC, não merece mais do que um gracejo: Bem pode navegar na corrente da metaficção historiográfica, um sucedâneo de pós-modernismo que postula (numa das pronúncias videográficas do paizinho da nação): “Não foi axim, mas podia ter xido!”.
2 comentários:
"O polvo morreu, mas os tentáculos ainda andam por aí"
Armindo
O Polvo vai sendo substituído. Quando morre um, entra outro para o alcatruz.
;)
Enviar um comentário