Acuso-me de viver o presente imediato, de olhos revirados para as “grandiosidades” do passado, suspenso nas memórias da saudade, desinteressado no amanhã.
Acuso-me de pertencer a um povo que alargou o mundo mas não promoveu qualquer “encontro de civilizações”, relegando-se para o papel de moço de fretes no transporte de mercadorias. Um povo que aspirou a um Império geográfico e sucumbiu no analfabetismo, hoje, na iliteracia.
Acuso-me de aguardar a salvação sebastianista, achando, por isso, inútil participar em qualquer esforço, singular ou colectivo.
Acuso-me de praticar a indolência atribuída ao psicossomatismo mediterrânico (alimentação, clima, etc), folgando amiúde, fazendo gaifonas ao esforço colectivo, rindo-me dos que trabalham.
Acuso-me de ter herdado e preservado a cultura judaico-cristã de feição católica, nomeadamente nos seus cultos da resignação e da divina providência, postulados que adiam as soluções imediatas para os maiores problemas dos desamparados, remetendo-os para posterior compensação no domínio divino.
Acuso-me de me ter alheado dos problemas da sociedade negligenciando a crítica aos actos daqueles que elegi, levianamente, sem inquirir das suas capacidades e honestidade.
Acuso-me de atribuir os maus resultados da minha prestação, como cidadão, à crise económica mundial, à situação geográfica periférica do país, e ao aquecimento global.
Acuso-me de oferecer resistência à mudança. A qualquer mudança.
Acuso-me de não denunciar o gatuno do bairro, o político desonesto, o director corrupto.
Acuso-me de pactuar com a falsa instrução e a falsa educação, implementadas pelas dinâmicas, ditas, reformistas.
Acuso-me de respeitar a opinião, qualquer opinião por mais absurda que seja, e ignorar a Razão.
Acuso-me da prática da arrogância do impoluto que, cinicamente, recusa o diálogo escondendo-se num silêncio de sábio insolente.
Acuso-me de dialogar apenas com as chávenas de café e os companheiros de esplanada, excelentes tribunos, autistas como eu.
Acuso-me de não saber o nome de todos os jogadores da equipa do meu clube, que não me lembro agora se é o Benfica, o Sporting ou o Porto.
Acuso-me de aceitar a deturpação da Justiça e invocar a Verdade, a minha verdade, como valor supremo.
Acuso-me de tudo. Sou culpado!
- Diz-me espelho meu, haverá algum português mais português do que eu?
Leitura recomendada: “Pantagruel”, de Rabelais
Acuso-me de pertencer a um povo que alargou o mundo mas não promoveu qualquer “encontro de civilizações”, relegando-se para o papel de moço de fretes no transporte de mercadorias. Um povo que aspirou a um Império geográfico e sucumbiu no analfabetismo, hoje, na iliteracia.
Acuso-me de aguardar a salvação sebastianista, achando, por isso, inútil participar em qualquer esforço, singular ou colectivo.
Acuso-me de praticar a indolência atribuída ao psicossomatismo mediterrânico (alimentação, clima, etc), folgando amiúde, fazendo gaifonas ao esforço colectivo, rindo-me dos que trabalham.
Acuso-me de ter herdado e preservado a cultura judaico-cristã de feição católica, nomeadamente nos seus cultos da resignação e da divina providência, postulados que adiam as soluções imediatas para os maiores problemas dos desamparados, remetendo-os para posterior compensação no domínio divino.
Acuso-me de me ter alheado dos problemas da sociedade negligenciando a crítica aos actos daqueles que elegi, levianamente, sem inquirir das suas capacidades e honestidade.
Acuso-me de atribuir os maus resultados da minha prestação, como cidadão, à crise económica mundial, à situação geográfica periférica do país, e ao aquecimento global.
Acuso-me de oferecer resistência à mudança. A qualquer mudança.
Acuso-me de não denunciar o gatuno do bairro, o político desonesto, o director corrupto.
Acuso-me de pactuar com a falsa instrução e a falsa educação, implementadas pelas dinâmicas, ditas, reformistas.
Acuso-me de respeitar a opinião, qualquer opinião por mais absurda que seja, e ignorar a Razão.
Acuso-me da prática da arrogância do impoluto que, cinicamente, recusa o diálogo escondendo-se num silêncio de sábio insolente.
Acuso-me de dialogar apenas com as chávenas de café e os companheiros de esplanada, excelentes tribunos, autistas como eu.
Acuso-me de não saber o nome de todos os jogadores da equipa do meu clube, que não me lembro agora se é o Benfica, o Sporting ou o Porto.
Acuso-me de aceitar a deturpação da Justiça e invocar a Verdade, a minha verdade, como valor supremo.
Acuso-me de tudo. Sou culpado!
- Diz-me espelho meu, haverá algum português mais português do que eu?
Leitura recomendada: “Pantagruel”, de Rabelais
2 comentários:
Belo texto!
"Da má distribuição das coisas deste mundo/todos nós/sem nenhuma excepção/temos a máxima culpa."
Cesariny
Abraço
Comentei o seu comentário no meu blog... (rs)
Abraço
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