Se a verve criativa eclode é porque o subconsciente recolheu imagens, discursos, sons, cores, emoções que a habilidade intelectual se encarrega de moldar sucessivamente em tramas que, logicamente, não incidem sobre pessoas específicas mas sobre estereótipos das gentes que me rodeiam, com uma ou outra incursão num tipo concreto, hiperbolizado até à caricatura grotesca, tão ao meu gosto. Servem para isso, desde os rostos anónimos de uma praça de Portimão ou de uma rua de Alvor, aos corpos desconhecidos que se estendem sobre as areias da Solaria na calidez do Verão, passando pelos forasteiros das mais exóticas raças e distantes origens que visitam Lagos. Assim como servem as expressões faciais, a linguagem dos corpos, e a forma de reagir ao inusitado, daqueles com quem partilho o quotidiano, quer em resposta às minhas incitações ou negações quer em resultado de relacionamentos entre terceiros. E dessa observação registo pormenores que uso na construção dos retratos psicológicos das personagens que crio. Manancial maior que o oferecido pela realidade não encontra a ficção, nem mesmo espremendo o engenho dos magnos vates da arte da escrita.
Basta a atenção ao que nos rodeia para daí se retirar as historietas mais incríveis que imaginar se possa. A ficção é uma realidade, por vezes hilariante, outras vezes assustadora.
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