A MORTE DO SR. LAZARESCU

Ontem à noite assisti, na RTP2, à morte do senhor Lazarescu. É a história de um viúvo de 62 anos, que vive com os seus gatos num pequeno e degradado apartamento em Bucareste. Uma noite, as dores de estômago e de cabeça agravam-se, juntando-se aos efeitos do álcool, e o homem decide chamar o 112. Com o embarque na ambulância tem início uma dança pelos hospitais do sistema de saúde romeno que nalguns aspectos me fez recordar o nosso sistema de saúde. Mas apenas nalguns, já que das duas vezes em que fui internado, por 24 horas, para intervenção cirúrgica, não fui alvo do cinismo médico que o filme documenta. As semelhanças que refiro incidem mais sobre os espaços, os meios e algumas atitudes no atendimento nos vários serviços. Porventura, aspectos “geneticamente” latinos que me remeteram, em certos momentos do filme, para as realidades portuguesas. O Realizador e co-argumentista, Cristi Puiu, filma com um rigor clínico e frio esta epopeia hospitalar, como se fosse um documentário. Aliás, comecei a ver o filme já por volta do 10º minuto e, durante algum tempo, julguei tratar-se mesmo de um documentário. A sucessão de situações dramáticas alternando com outras visivelmente inscritas num quase humor negro é que revelaram tratar-se de ficção. Deste filme de 2005, enorme (com mais de duas horas), representativo do novo cinema romeno (?) gostei do toque de neo-realismo (tributo ao cinema italiano dos anos 70?) e dos artifícios do “humor suspenso”. E mesmo entrando numa notória previsibilidade de situações na segunda metade, gostei do desfecho abrupto, para muitos, decepcionante.

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