Lagos, Sagres e o Infante D. Henrique

Não existiu nenhuma escola náutica em Sagres, tampouco em Lagos. Pelo menos não é conhecido qualquer documento coevo que refira tal coisa. Pelo contrário, os documentos existentes indicam que o Infante só a partir de 1443 começa a efectuar estadias mais demoradas no Algarve, e que a sua vila em Sagres «… só ficou minimamente funcional por volta de 1446, doze anos depois de Gil Eanes ter passado o cabo Bojador e um lustro após a resolução dos problemas náuticos suscitados pelo avanço dos navios henriquinos para as águas onde sopravam os alíseos que obrigavam a efectuar o regresso pela volta do largo. A célebre “escola de Sagres” não passa, pois, de um grande equívoco, o que, porém, não retira importância histórica a Sagres. Esta vem-lhe, todavia, da força do mito que se alicerça num facto histórico indiscutível – aquele foi o espaço escolhido por D. Henrique para se recolher e afastar do mundo e a presença do infante no cabo interpelador coincide com o apogeu das navegações que ele dirigia.»*

Portanto, é escusado tanto “ruído” em torno da figura do Infante D. Henrique. Para evidenciar a sua importância basta considerar os factos que hoje conhecemos sem necessidade de continuar a propagar aldrabices resultantes de uma abordagem romântica e nacionalista da História de Portugal, que tantos historiadores do passado cultivaram.
No próximo dia 13 de Novembro transcorrem 550 anos desde a sua morte. A efeméride será sinalizada com palestras, animação e actos solenes, no intuito de celebrar o homem e a sua obra. Que o façam com correcção histórica e com sobriedade, sem foguetórios nem solenidades exageradas, sem reincidir nas histórias disparatadas daquilo que não existiu nem aconteceu, é o melhor que podem fazer em memória dessa incontornável personagem da nossa história.

A maior estada do Infante em terras do Algarve, durando 60 anos, resulta da obra do escultor Leopoldo de Almeida, que o mantém sentado numa praça de Lagos desde 1960.

* OLIVEIRA E COSTA, João Paulo, “Henrique O Infante” (Cap. 3, pág. 297), Lisboa - 2009, A Esfera dos Livros.

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