Fotografia Contemporânea

Fotos minhas, e excerto do texto “A fotografia artística e o seu lugar na arte contemporânea”, de António Luís Tavares*

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Em França, foi Picasso e Braque com o Cubismo e Mondrian com o Neoplasticismo quem mais influenciou os caminhos da fotografia artística nas primeiras décadas do século. Se naquele país foram estes os pintores que deram o mote para a “nova fotografia”, em Itália essa tarefa coube aos Futuristas, fazendo com que os fotógrafos “emprestassem” movimento às suas criações.
Por toda a Europa o Dadaísmo, o Surrealismo com as suas montagens, as suas performances, provocaram profundas e vincadas transformações no campo da fotografia.
"O mágico tirando mulheres do chapéu", Britaica 1981

Não tenhamos a menor dúvida que a fotografia, ao ser influenciada pela pintura também a influenciou e de tal forma que lhe motivou profundas alterações. Vejamos: foi a fotografia que proporcionou o facto da pintura se libertar da necessidade de replicar a realidade. Alheia a esta situação não ficou a corrente Impressionista, que se desagrilhoou dos preceitos do Realismo e da Academia. Aos Impressionistas já não interessava o retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em si. Advém desta situação a conclusão que a fotografia estava mais bem posicionada e apetrechada para captar o naturalismo e o realismo que a pintura. A clareza deste assunto é por demais evidente. Também, por ouro lado, a fotografia se colocava em melhor posição para obter o movimento da temática a reproduzir, influenciada pela corrente Futurista.
Se por um lado se verificava uma influência recíproca, em simultâneo ou em ritmos e etapas diferentes, acabou por ser inevitável que fotografia e pintura tivessem que seguir rumos diferentes. Assim aconteceu, de facto. No entanto a História encarregar-se-ia de demonstrar que tais caminhos, mais cedo ou mais tarde, haveriam de cruzar-se novamente.
É na actualidade que este caminho paralelo, cruzado, umas vezes a fotografia a entrar no campo experimental da pintura outras vezes o inverso, se manifesta com maior acuidade.
Fantasia com pano de fundo numa praia da Costa Vicentina
A fotomontagem, o abstraccionismo e mais recentemente o tratamento digital deste meio estabeleceram a ascensão da fotografia artística ao lugar de elevado e nobre destaque que hoje ocupa no panorama da arte Contemporânea.
A prova mais absoluta é o acervo de vários museus de arte que já não possuem apenas nas suas exposições permanentes a pintura e a escultura, mas lá está a fotografia e o vídeo.
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Pensemos um pouco como os mais puristas amantes da pintura, mesmo da contemporânea: a fotografia mata por completo o conceito canónico de artista. A fotografia permite, grosso modo, que qualquer pessoa possa ser artista. Um bom enquadramento do tema, uma obturação perfeita, o efeito da lente especial ou o tratamento digital fazem com que o comum cidadão possa ser, num ápice, um artista. Bastará, face ao exposto, nesta época em que as tendências da arte contemporânea reforçam a ideia que cada qual faz a sua própria interpretação da obra de arte, para que a fotografia artística possa ombrear com a pintura? 
Registo para publicação arqueológica, Lagos 2008

Talvez a grande diferença entre a fotografia artística e a pintura contemporânea, à parte as técnicas e materiais, esteja apenas na rapidez da execução da obra. Isto é: na fotografia artística contemporânea a temática, a composição, a mensagem, as emoções, as influências, as tendências da expressão artística são comuns às da pintura. Assim, e tendo por base este preceito e a ressalva das técnicas e dos materiais, o que distingue a fotografia artística da pintura é o “clik” da máquina fotográfica. É este momento, muitas vezes de micro-segundos, que permite captar uma realidade, uma cena, um objecto, um olhar, uma expressão, um movimento, que do ponto de vista artístico/estético tem tudo o que a pintura possui.
O fotógrafo é, por excelência, o artista mais rápido que existe. Essa rapidez de execução da obra de arte acrescenta uma responsabilidade enorme ao fotógrafo: captar o “momento certo”, o enquadramento perfeito, a expressão ideal. É, sem hesitações, este o maior anseio do fotógrafo-artista.
"A prova do crime", Rua Soeiro da Costa
A fotografia, ao exibir “realidades” naturais, urbanas, humanas, sociais, fantásticas, absurdas, realistas, surrealistas torna-se transversal a toda a temática e mensagem representativa da arte contemporânea.
Analisando as temáticas contempladas na fotografia artística contemporânea há todo um “revisitar” de temáticas passadas, mas com roupagem e em composições actuais.
O fotógrafo converte uma rua da cidade, um momento, o olhar de uma criança, de um velho, a solidão dum homem em mitos, em concepções imagéticas que transportam o espectador para novas, e por vezes velhas, dimensões.
A fotografia contemporânea, tal como a pintura, têm na sua essência a criação de metáforas, de conotações, de analogias diversas, conseguindo converter a objectividade em subjectividade. O visível não é necessariamente aquilo que se nos é apresentado perante os olhos.
Fotografia da Xávega na Meia Praia, transformada em "pintura digital" para impressão em superfície rígida metálica
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A fotografia percorreu todo um caminho que, em várias épocas foi apenas o seu, alheada da História da Arte, mas que hoje se integra e constitui um verdadeiro ramo da História da Arte Contemporânea.

*TAVARES, António Luís Marques – A fotografia artística e o seu lugar na arte contemporânea. Sapiens: História, Património e Arqueologia.
[Em linha]. N.º 1 (Julho 2009), pp. 118-129. URL: http://www.revistasapiens.org/Biblioteca/numero1/A_fotografia_artistica.pdf

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