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figos lampos de S. João |
A figueira, árvore de exterior, dá-se bem nos climas temperados sobre terrenos fundos de origem calcária. Existem dezenas de variedades de figos, sendo mais adiantados os orjais, os lampos, os marqueses e os pedrais, e mais tardios os sufenos.
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figueira lampa |
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figos cótios secos |
Para além destes, destacam-se os que podemos encontrar no Algarve: bacalar (ou badalhouce?), bacorinho, burjassote branco, burjassote preto, cachopo, cara-lisa, carvalhal, cótio, da ponte, lampo branco, lampo preto, marquês, moscatel, orjal, pedral, pingo de mel, São Luíz e verdeal; sendo estes autóctones - ou introduzidos há tanto tempo que desse facto já não há memória -, e ainda os figos turcos, ditos de Smyrna (introduzidos posteriormente), que integram os bebero, belmandil, enchário branco e enchário preto.
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o almanxar ou almeixar |
Outras variedades importantes são os tocos e os boloitos. A sua utilidade reside no facto de se tratar de figos de “toque”, que não se comem pois acolhem insectos que abandonam o figo quando este amadurece e vão introduzir-se nos figos das outras variedades, conferindo-lhes maior volume e sabor e antecipando a sua maturação. Quando o figueiral não possui nenhuma figueira brava deste tipo, colocam-se as “penduras”, pequenos volumes de esparto ou junça, contendo figos de toque, suspensos dos troncos das figueiras.

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reconstituição cénica da apanha do figo pelo Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere |
Os figos passados separam-se em três lotes, segundo o tamanho e aspecto, estabelecendo assim o seu valor: flor, meia-flor (ou de comadre), e mercador. Estes últimos, e melhores, eram guardados em ceiras e depois exportados. Os que não se escoavam eram torrados para reforço alimentar no Inverno, sendo consumidos no desjejum, entre refeições, e à noite, com um copito de aguardente, ou para a “sossega” antes de deitar.
“Chamou-lhe um figo” é uma expressão antiga, mas ainda em uso, referente a algo delicioso que se comeu num ápice.
O Figo Seco
Seca o figo no lugar
chamado almanxar
ao sol até ao pincro
sobre esteiras de funcho
e estas sobre junco
irá depois para a tulha
um cilindro de cana
sobre chão formigão
donde escorre o mel
que sacia o abelhão
vão depois ao fumeiro
de enxofre e mau cheiro
para expurgo de bicheza
que manda a natureza
espalmados são moedas
uns, apenas flor
e os de mais valor
meia-flor ou mercador
figos de ano seco
irão pró estrangeiro
de chuva corrente
vão para aguardente
vai enseirado em palma
o belo figo coito
para andar no bolso
a servir de biscoito
Fonte consultadas:
- BONANÇA, João – “Encyclopedia de Applicações Usuaes” - (Cultura das árvores fructíferas), pág.393, Typographia Luzitana - Editora Arthur Brandão, Lisboa 1903
- CALADO, José Vieira – “Figos Lampos” http://lagospt.blogspot.com/search/label/almeixar
- CASTELO, F., poema “O Figo Seco” http://lagospt.blogspot.com/search/label/figo%20coito
- PEDRO, José Gomes - “Carta da Distribuição da Figueira e do Medronheiro” in Portugal Atlas do Ambiente – Notícia Explicativa – Ministério do Ambiente e Recursos Naturais, Direcção Geral do Ambiente, Lisboa 1994.
- PEREIRA NETO, João Baptista Nunes – “Campo, Cidade Mar e Serra, Categorias Culturais e Ambiente Num Concelho do Barlavento Algarvio”, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 1992
- SILVA LOPES, João Baptista – Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, Vol. I – Algarve em Foco Editora, Faro, 1998
- VASQUES, José Carlos – “As Passas do Algarve – o figo”, documento do CEMAL, Lagos 2010
1 comentário:
Tomei a liberdade de partilhar e copiar parte deste artigo que encontrei fazendo busca por causa duma foto com a legenda Um Almanchar e uma linda moça de Fumeiro.
Coloquei no facebook no Grupo Faro Costumes e Tradições Faro.
Cumprimentos e parabéns pelo seu blogue.
Luísa Hingá
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