SOLO fotopintura

Solo 1

Solo 2

No início era o fascínio pelos grandes mestres da pintura, mormente os que dominaram a reprodução da iluminação numa tela. Desses que admirei destaco Caravaggio. Mais tarde, refém da aparente superioridade na representação do real que a Fotografia propõe, admirei os grandes retratistas da Alta Renascença, como Dürer e Hans Holbein. Só muito depois é que apreendi a apreciar a representação do espírito das coisas ao observar mais atentamente as telas dos impressionistas.

E agora, fotopintura porquê? Em primeiro lugar clarifico a que é que chamo fotopintura. Trata-se de alterar uma fotografia conferindo-lhe o aspecto de uma pintura, simulando as pinceladas, as irregularidades da espátula, eliminando elementos ou acrescentando outros, usando os efeitos, os pincéis e demais ferramentas do editor de fotografia que tenho no computador.

Seria eu capaz de alcançar igual resultado pegando em pincéis, espátulas, tintas e telas? De modo nenhum, não domino as técnicas nem os materiais. Portanto, se pretendo alterar a imagem que resulta dessa transformação de uma foto numa “pintura”, uso os instrumentos que o programa oferece. A intenção existe, a acção de desenhar ou pintar também, e não obstante a aplicação desses efeitos e o manuseamento dessas ferramentas apresentar algumas dificuldades e limitações, a minha inépcia em matéria de desenho e pintura - no sentido tradicional-, é superada pela possibilidade de ir repetindo até chegar ao resultado pretendido.

Então, fotopintura porquê? Porque assim obrigo a Fotografia a aproximar-se da pintura. E a pintura recria de maneira superior a essência das coisas despojando-as do supérfluo, do acessório, do pormenor que distrai e gera o “ruído” que dificulta a apreensão do espírito das coisas. A Fotografia representa o mundo quase tal como o vemos. É demasiado real. Enquanto a pintura mostra-nos uma recriação do real, uma sugestão de como ver o real de outra forma, segundo a sensibilidade e a intenção do autor. E essa riqueza é sedutora para quem pulula no mundo da aparente realidade.



Todas as grandes caminhadas fazem-se a solo.

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«Já estive (e ainda estou um pouco) fascinado por esse tipo de fotografia, Francisco. Por acaso usava o Corel Photo Paint que tem uns filtros e efeitos incríveis.
A fotografia como arte não é apenas realidade, penso eu, mas também um veículo que transmite aos outros um pouco da nossa interpretação sobre o que é apresentado. »
TheOldMan
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TOM, my friend,

Há anos que ensaio coisas assim, mas a título de brincadeira e apenas como coisa a que muitos chamam “arte digital”. Usando Paint Shop, Photo Paint, Photo Shop, que, como outros editores de imagem, possuem filtros, efeitos, controlos de luz e cor, que permitem obter resultados admiráveis.

Nunca fiz imagens dessas para imprimir em formatos grandes mas, agora - porque necessitava substituir duas fotografias aéreas que tenho na sala -, optei por imprimir peças destas em quadros de 80cm Dibond (painéis de compósito de alumínio, muito leves, resistentes, e que não absorvem a tinta de impressão, garantindo a reprodução fiel das cores escolhidas). Levando a coisa mais longe, optei por participar na MALA 2011 (Mostra de Artistas Lacobrigenses), também com dois quadros destes.

Com estas “fotopinturas” a que também podia chamar “imagem digital”, e que insisto distinguir da Pintura e da Fotografia, exercito o despojamento, a simplificação da imagem pormenorizada que a máquina fotográfica nos dá do real; um pouco como fizeram os pintores pré-impressionistas (como Turner, que muito aprecio), os impressionistas e outros das várias correntes do Pós-Impressionismo. Num mundo que ensaia e produz constantemente a complexidade, a recorrência ao gosto pelo simples é uma evasão, no mínimo recreativa, mas que pode ser também uma manifestação artística.

“A fotografia como arte não é apenas realidade”. Pois claro, eu até diria que se ela é apenas realidade, dificilmente será arte (o caso da foto-reportagem exige uma outra abordagem para discussão da sua dimensão artística).

Sempre que vincamos a nossa interpretação particular sobre o real e imprimimos um cunho muito pessoal naquilo que transmitimos aos outros, inevitavelmente entramos nos domínios da Arte – que é feita sobretudo de busca estética, invenção, ruptura, crítica e reinterpretação.

Assim cuido.
Abraço

2 comentários:

TheOldMan disse...

Já estive (e ainda estou um pouco) fascinado por esse tipo de fotografia, Francisco. Por acaso usava o Corel Photo Paint que tem uns filtros e efeitos incríveis.

A fotografia como arte não é apenas realidade, penso eu, mas também um veículo que transmite aos outros um pouco da nossa interpretação sobre o que é apresentado.

;-)

francisco disse...

Meu caro, depois de ter perdido o comentário resposta aqui colocado, decidi inserir ambos os comentários, o teu e o meu, no corpo do artigo.

;)