sobre o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908


«Um dos que escaparam no Terreiro do Paço onde acabou a monarquia, foi o José Ribeiro. Foi ele que me contou também o seguinte – continua o meu informador: - Não fomos para a Rua Alexandre Herculano porque o Buiça, que era um desleixado, deixou passar a hora. Resolvemos então ir para o Terreiro do Paço: contávamos que João Franco, que esperava o rei, havia de aparecer ali. Postaram-se todos cinco – o Ribeiro, o Buiça, o Costa e outros dois que ainda estão vivos – na esquina da praça. Acabada a recepção, começaram a passar os convidados e eles sempre à espera do João Franco para o matarem. Abalaram as primeiras carruagens e o Costa desesperou. Desceu pelo Terreiro do Paço abaixo, seguido pelo José Ribeiro e pôs-se a ver quem saía do cais. Um, outro e o presidente do ministério franquista sem aparecer. Até que lhe disse: - Vai lá acima e diz ao Buiça que aquele ladrão ainda nos escapa! Nesse momento, ao fundo, aparecia a carruagem real. - E se nós – continuou ele – deitássemos aqueles abaixo? E o Buiça respondeu prontamente: - Vamos a isso! O resto sabe-se. O Buiça saltou à frente, o Costa pôs o pé no estribo da carruagem, tiros, confusão e a morte do rei e do príncipe.”»
In Raul Brandão, Memórias Tomo II, Obras Completas Vol I, ed. Relógio D’Água, 1999.

Sem comentários: