mel e m...




Um monchiqueiro (de Monchique), vinha periodicamente a Lagos, por altura das feiras, e aproveitava para vender mel numa mercearia da cidade (ou receber a encomenda para trazer o néctar na próxima visita). Certa vez, o dono da mercearia, pretendendo gozar o “montanheiro” perante a demais clientela, e não precisando ainda de novo stock de mel, disse ao camponês: - Oh, amigo, mel agora não faz falta. Sabe do que estou precisando? É de asas de moscas. – Asas de moscas?! Repetiu, atónito, o monchiqueiro? – Sim, asas de moscas. Os americanos estão a comprar isso às toneladas para fazer cosméticos. Se você arranjar uma saca de asas de moscas pago-a a 100$00 (estamos nos anos 30/40 e 100$00 era uma fortuna). 
O monchiqueiro terminou a sua ronda pelo mercado e abalou para a serra pensativo. Havia muitas pocilgas e muita mosca lá para os lados da serra, podia ser um bom negócio. Na feira seguinte recolheu a encomenda de mel e a repetição do pedido do comerciante de Lagos, as asas de mosca. O camponês respondeu que estava a tratar disso e mal saiu da mercearia os demais presentes riram desbragadamente perante a explicação do comerciante. 
Um ano volvido entra pela loja o camponês com um enorme saco que depôs aos pés do comerciante: - Aqui está a saca de asas de mosca! Perplexo, o comerciante, que já não se lembrava da brincadeira, abriu o saco para deparar com milhões de minúsculas asas de mosca. Embaraçado, ia emitindo uns sons guturais, enquanto enchia a palma da mão com as minúsculas asas para logo depois as despejar na mesma saca. 
De repente, o seu rosto iluminou-se e exclamou: - Oh amigo Zé, mas então… mas então, o que é que eu lhe pedi? Eu disse-lhe que eram asas de moscas e você traz-me asas de moscos?! – Isto são asas de moscos, homem! O desgraçado camponês, aterrado, viu o seu trabalho de um ano ir, assim, num ápice, por água abaixo. Olhou o merceeiro demoradamente e disse, numa voz sumida: - Ahh…desculpe lá, não percebi bem. Saiu da loja, desprendeu a  arreata da alimária que o esperava à porta da mercearia e encetou a caminhada de regresso à serra.

Na feira seguinte lá estava o camponês com o cântaro de mel para entregar ao merceeiro, mas desta vez cheio de merda selada com uma fina camada de mel à superfície. Entregue o cântaro, logo o merceiro lhe espetou o dedo para fazer a prova do costume, a que se seguiam os encómios, dirigidos à clientela presente, sobre a qualidade do melhor néctar de abelhas que o amigo Zé lhe trazia, em exclusivo, da serra para a sua loja. Só que desta vez, e depois de retirar o dedo da boca, o merceeiro exclamou: - Ó amigo Zé, mas este mel tem um sabor esquisito. Repetiu a prova e confirmou: - Isto sabe a… não sei quê. O camponês respondeu: -Atão o amigo sabe distinguir entre asas de mosca e asas de mosco e não sabe distinguir entre mel e merda?


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